Os altos índices de reprovação nas autoescolas está tão difícil de controlar no Brasil que em alguns estados os CFC já estão na mira do Ministério Público. O Parquet entrou na briga agora, só que considera que 20 horas/aula de prática é insuficiente para aprender a dirigir e sugere que se aumente para 40 horas/aula.
Lá em Minas Gerais o mesmo Ministério Público acusa o Detran de não cumprir com a fiscalização nos exames práticos de direção ao mesmo tempo em que promete endurecer a fiscalização em cima das autoescolas para que se faça cumprir a Resolução 358/10 do CONTRAN. Tal Resolução dispõe o seguinte: ou as autoescolas aprovam mais de 60% dos seus alunos nos testes práticos de direção ou perdem o credenciamento.
A gravidade do problema fica ampliada pela declaração do diretor de habilitação do Detran/MG de que se a lei fosse cumprida todas as autoescolas teriam de ser fechadas, principalmente pelos altos percentuais de reprovação.
Ora, senhores leitores e profissionais ligados ao processo de habilitação no Brasil, colocar a casa em ordem tomando apenas medidas administrativas no âmbito dos CFC para não perder o credenciamento é mole. Difícil mesmo é rever, atualizar e ajustar a parte pedagógica do processo de habilitação.
Não adianta aumentar a carga horária das aulas práticas enquanto não se mudar os métodos arcaicos de ensino e de aprendizagem da direção veicular no Brasil. Porquê? Porque são métodos tradicionais, que ainda se baseiam no modelo ultrapassado de ensino baseado na memorização, no "decorar para a prova" tanto na parte teoria quanto na parte prática.
Como se ensina a estudar para a prova teórica? Com decoreba de apostilas e pouco papo sobre incorporar o enunciado das questões? Sem analisar as situações cotidianas no nosso trânsito à luz do CTB e do comportamento humano no trânsito?
E para a prova prática, como formar condutores para um trânsito cada vez mais caótico que exige condutores autônomos, seguros, com conceitos bem construídos sobre o ato de dirigir, a direção defensiva e a aprendizagem significativa se ainda se ensina a decorar as voltinhas de volante para a baliza? Os tempos são outros, a tecnologia dos carros evoluiu e ainda continua-se a ensinar o ponto de saída do carro dependendo de tremidinha de volante?
Será que é assim que ainda se pensa e se pratica a formação de condutores no Brasil? Então, não há nada de anormal nos índices altíssimos de reprovação nos testes práticos de direção. Os resultados apenas demonstram e refletem a correspondência e a ineficiência dos métodos de ensino e aprendizagem da direção veicular. O que existe de anormal é ter estampado na cara da sociedade todos os dias que esses métodos ultrapassados de ensinar a dirigir já não funcionam mais e ainda continuam sendo praticados, preservados e justificados com cortina de fumaça.
O mais grave nisso tudo é a necessidade de mudança, de revisão dos métodos pedagógicos para que se deixe o adestramento do aluno de lado e se passe a investir num ensino com acolhimento emocional ao aluno, com aprendizagem significativa, com construção de conceitos e de significados sobre o ato de dirigir.
Já quanto as críticas de que o aluno passa mais tempo na sala de aula do que praticando também não justificam as altas reprovações porque é absolutamente necessário conhecer a legislação de trânsito, aprofundar as noções de ética, de cidadania, de valores de convivência porque no dia a dia o que vemos é muita gente boa de volante, com anos de experiência, que sabe dominar o carro, mas que ainda assim se envolve em acidentes de trânsito mais do que os motoristas iniciantes.
A questão do medo de dirigir e do medo de ser avaliado como propõem alguns psicólogos pode ajudar a explicar as principais causas que interferem na reprovação, mas também não as justificam por completo. No mínimo, indica que se repense a parte pedagógica, os planos pedagógicos e a formação dos instrutores para que possam acolher emocionalmente os alunos, saber diferenciar e se antecipar às suas dificuldades.
Investir no relacionamento professor e aluno é outro eixo principal que precisa ser trabalhado com urgência sem que mais tarde o aluno necessite recorrer a pacotões de aulas para habilitados feitos por psicólogos e os chamados "gestores" para que consiga entender para que lado vai a traseira do carro numa manobra.
Sim leitores, isso pode parecer absurdo para uma pessoa habilitada, mas é a exata realidade do que vem acontecendo: motoristas habilitados que não sabem para que lado vai a frente ou a traseira do carro quando giram o volante!
Que ensino da direção veicular é esse que se pratica no Brasil que o futuro motorista que deveria passar por um processo de formação recebe a concessão do Estado para dirigir sentindo-se refém do veículo?
A prática vem com o tempo, mas acima de tudo, com uma formação adequada sobre os comandos básicos do carro. Não adianta aumentar a carga horária para 40, 60 ou 100 horas/aula porque se o ensino e a aprendizagem não forem revistos, adequados e melhorados continuaremos a ter motoristas totalmente despreparados com a habilitação na mão.
Ficar nervoso na prova de direção é normal e sugerir que isso seja a causa maior das reprovações é empurrar mais uma vez a culpa pelas reprovações nos testes práticos ao aluno. É rotular o aluno com medo de dirigir, o aluno nervoso, o aluno com medo de ser avaliado, o aluno problemático e blá blá blá.
Precisamos de menos blá blá blá e mais estudo sério sobre o assunto. Precisamos rever a parte pedagógica URGENTE das autoescolas. Precisamos de profissionais do trânsito comprometidos com o ensino e a aprendizagem veicular. Não dá para continuar tentando resolver o problema com aulas e mais aulas enquanto não aprendermos a como ministrar essas aulas. Mais qualidade e menos quantidade lembra alguma coisa?
Fonte:
Em todo Brasil, para isso melhorar teriam que olhar com bons olhos para a classe de instrutores que são explorados pelas autoescolas e obrigados a uma carga horária diária desumana de até 14 horas para poderem ganhar um salário digno para sustentar suas famílias é isso, como um ser humano vai dar uma aula de qualidade trabalhando esta carga horária com apenas uma hora de intervalo, e se não der aula não recebe , dias de prova não recebe e ainda tem que tirar do seu próprio bolso para se alimentar, dai fica difícil para não dizer impossível...
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