28 de jul. de 2010

Brasileiro vê bom motorista como babaca, diz antropólogo Roberto Da Matta

Professor da PUC-RJ é autor do livro Fé em Deus e Pé na Tábua
Carlos Etchichury carlos.etchichury@zerohora.com.br Recentemente, estudos feitos no Rio Grande do Sul constataram uma contradição percebida facilmente por quem circula por ruas, avenidas e estradas. Para os motoristas gaúchos, os responsáveis pelo trânsito violento e incivilizado são sempre os outros” ,Agora, uma pesquisa na Grande Vitória, no Espírito Santo, além de confirmar o padrão de comportamento detectado no Estado, ajuda a interpretar as causas desta visão distorcida da realidade. Você concorda com o antropólogo Roberto Da Matta de que o brasileiro vê o bom motorista como babaca? – Os outros são invisíveis no Brasil. Você não é treinado em casa nem nas escolas para ver o outro como colega, como um sujeito que tem os mesmos direitos de usufruir o espaço de todos. Para nós, é o contrário: o espaço de todos pertence a quem ocupar este espaço primeiro, com mais agressividade – analisa o antropólogo Roberto Da Matta, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e consultor da pesquisa. O trabalho, em fase de conclusão, será transformado no livro Fé em Deus e Pé na Tábua – Como e Por que Você Enlouquece Dirigindo no Brasil. Autor de clássicos das ciências sociais como Carnavais, Malandros e Heróis, Da Matta sustenta que o trânsito reproduz valores de uma sociedade moderna, mas atrelada ao passado. Trata-se do espelho de um país que se tornou republicano sem abandonar a aristocracia. – Nós não olhamos para o lado, a não ser quando somos obrigados a olhar. E olhamos para o lado com má vontade, exatamente como acontece com o motorista quando para no sinal, que tem um cara na sua frente que tá te atrapalhando. E um cara atrás de você que também atrapalha – complementa o antropólogo. Da Matta falou com Zero Hora sobre o estudo para o qual prestou consultoria, comentou pesquisas realizadas no Estado e analisou o comportamento dos motoristas: ZH – Nos últimos seis meses, foram divulgadas duas pesquisas sobre o comportamento do motorista no trânsito em Porto Alegre e no Estado. Em síntese, elas dizem o seguinte: o problema são os outros porque eu dirijo bem. Por que o motorista tem uma visão distorcida da realidade? Roberto Da Matta – Os resultados encontrados em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul são praticamente idênticos aos identificados na Grande Vitória. Todo mundo é cidadão, todo mundo tem direitos, mas respeitando a igualdade do outro. E é exatamente o que caracteriza o trânsito. Por quê? Porque pessoas que estão submetidas às regras das vias públicas brasileiras e do espaço público brasileiro, em geral, não aprenderam a ser igualitárias. A igualdade para nós é menos importante do que a liberdade. ZH – Por que o Brasil moderno reproduz relações aristocráticas e atrasadas? Da Matta – Você não mata o menino que existiu dentro de você. Você não mata os antigos hábitos. Você transforma os antigos hábitos, fazendo com que eles dialoguem com hábitos novos, com novas necessidades coletivas. Para mudar o nosso comportamento, nós temos de nos mobilizar, a gente tem de fazer um agenciamento de dentro para fora. ZH – Até que ponto as relações no trânsito reproduzem as relações humanas de um modo geral? Da Matta – Elas reproduzem as relações humanas com as quais nós fomos socializados. Dentro de casa, cada um tem seu espaço na socialização brasileira. Fomos criados em ambientes que comportam hierarquias bem definidas: arrumadeira, passadeira, lavadeira. São os últimos ecos de escravidão e de clientelismo que permeiam a sociedade brasileira. Esse quadro cognitivo, emocional, está nas nossas cabeças. Quando você vai para o trânsito, você tem uma situação desagradabilíssima: obedecer no Brasil é um sintoma de inferioridade. É um aspecto que a pesquisa identificou. Quem obedece, quem segue lei no Brasil, é babaca, idiota. ZH – Numa das pesquisas realizadas no Estado, 69% dos entrevistados dizem que não cometem imprudências ao volante. Da Matta – (Gargalhada). Maravilha. O estilo de dirigir brasileiro é agressivo. Fomos criados com uma visão da casa como inimiga da rua. É como se o mundo da rua não fosse regrado pelas mesmas regras de casa, que é a regra do acolhimento. ZH – O título do livro Fé em Deus e Pé na Tábua sugere que o senhor tenha encontrado elementos religiosos no comportamento dos motoristas. É isso? Da Matta – Com certeza. Noventa e nove por cento dos brasileiros acreditam que têm uma outra vida. Então, se você acredita que este mundo não é o único mundo possível, se há um outro mundo, você pode ir para um mundo melhor. ZH – A impunidade, ou a sensação de impunidade, contribui para que esta visão aristocrática no trânsito se perpetue? Da Mata – Quando a gente discute a questão da igualdade, a gente o faz de maneira retórica. Há uma elasticidade grande na cultura brasileira, que tem uma inércia. Você freia, mas o peso da tradição continua. Você tem de preparar a sociedade para as mudanças, o que nós não fazemos no Brasil. A Lei Seca, por exemplo. É maravilhosa porque atingiu o comportamento da classe média. ZH – A classe média tem um papel reprodutor de valores e costumes? Da Matta – Exatamente. A classe média é o espelho tanto da elite, que tá lá em cima, quanto dos muito pobres. É o miolo. A Lei Seca provocou uma visão ambígua, e paradoxal, na classe média. ZH – Na pesquisa que o senhor assessorou, além de traçar um diagnóstico, também aponta caminhos e alternativas? Da Matta – A alternativa é essa: nós temos de falar mais em igualdade, ensinar mais igualdade. É um negócio chatíssimo. O nosso lema é: “os incomodados que se mudem”. E não é verdade. ZH – Uma pesquisa realizada na Grande Vitória produz resultados estruturais capaz de se tornar referência para todos os Estados do Brasil? Da Matta – Como toda pesquisa empírica, você trabalha com tipos. Você trabalha com uma mentalidade, com um tipo, com uma mentalidade, um modelo de motorista. O comportamento que você encontra em Vitória é semelhante ao encontrado no Sul do Brasil, como apontam as pesquisas de que você me fala Fonte: http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1§ion=Geral&newsID=a2986161.xml - Acesso em 28/07/2010

22 de jul. de 2010

Capacitação em Educação para o Trânsito

Dias: 23 e 24 de outubro de 2010 (sábado e domingo).
Horário: das 08h30min às 18h00min
Local: Centro Multiuso - Av. Beira-Mar de São José, s/no. - São José - SC Objetivos Promover o conhecimento sobre métodos e técnicas educativas de trânsito, para o desenvolvimento de palestras, aulas e campanhas, a fim de que sejam usadas as linguagens e os recursos adequados ao foco e ao público alvo, propiciando maior interesse e aprendizagem. Docente: Irene Rios Especialista em Ambiente, Gestão e Segurança de Trânsito e em Metodologia de Ensino; Professora de Educação de Trânsito para Crianças e Adolescentes, no CEAT - Centro de Estudos Avançados e Treinamento - São Paulo, de Educação no Trânsito e de Campanhas Educativas de Trânsito na UNIVALI – Universidade do Vale do Itajaí; Autora de Artigos e livros sobre Educação para o Trânsito.
Conteúdos abordados
• Por que e como educar para o trânsito.
• Histórico e obrigatoriedade da educação para o trânsito nos documentos oficiais.
• Dicas de oratória.
• Educando crianças para o trânsito.
• Educando adolescentes para o trânsito.
• Educação para o trânsito na escola.
• Educando pedestres, passageiros, ciclitas, motociclistas e motoristas para o trânsito.
• Ética e trânsito.
• Campanhas educativas para o trânsito. Investimento: R$ 260,00.
Incluso: Apostila e Coffe Break. Os participantes receberão certificado de participação. Inscrição: envia e-mail para edutranec@gmail.com. Contato
DUTRANEC - Educação para o Trânsito e Eventos Culturais
Fone/Fax: (48) 3246-8038 (48) 9944-9448
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19 de jul. de 2010

Por que e como educar para o trânsito?

O trânsito tem sido a causa de muitos problemas sociais. Podemos citar a poluição e os congestionamentos causados pelo excesso de veículos circulando nas vias. 

Conforme dados do Denatran (http://www.denatran.gov.br/frota.htm - acesso em 07/06/2010), de dezembro de 2004 a dezembro de 2009 a frota brasileira teve um aumento de 20.120.767 veículos, ou seja, 335.346 novos veículos circulando no Brasil a cada mês. Nossas rodovias não estão acompanhando esse crescimento da frota. A cada dia aumentam os congestionamentos, o estresse e outros tipos de problemas de saúde causados pelo excesso de veículos. Por outro lado, a violência no trânsito tem deixado muitas famílias desestruturadas, pais órfãos de filhos, muita dor e sofrimento. Segundo estudo da CNM – Confederação Nacional dos Municípios, no artigo As mortes no trânsito brasileiro em 2009:


“...foi divulgado pela administradora dos Seguros DPVAT o total de 53.059 mil mortes no trânsito em 2009. O DPVAT é um seguro obrigatório que deve ser pago por todos os proprietários de veículos de via terrestre, e garante às vítimas de acidentes com veículos o recebimento de indenizações. Tratam-se dos números mais próximos da realidade, se comparados aos números do DENATRAN e do Ministério da Saúde. (...) Os registros segundo o pagamento do DPVAT ainda indicam que houveram, em 2009, 118.021 pessoas vitimas de acidentes de trânsito que ficaram inválidas e 85.399 que receberam atendimento médico hospitalar por estarem feridas, que somados às vítimas de morte, totalizam 256.472 pessoas envolvidas em acidentes de trânsito no último ano. (...) Quando se analisa a faixa etária das pessoas que mais morrem em acidentes de trânsito, constatamos que jovens de 21 a 30 anos também são a grande maioria das vítimas fatais (29%). Quanto mais vai aumentando a idade, menos mortes no trânsito ocorrem. Somando o grupo de 16 a 45 anos, se alcança 67% das mortes.”
http://portal.cnm.org.br/sites/9000/9070/Estudos/Transito/Asmortesnotransitobrasileiroem2009.pdf - acesso em 19/07/2010.

A sociedade está perdendo muitos jovens trabalhadores e aposentando outros tantos, que ficaram com seqüelas e incapacitados para o mercado de trabalho. Boa parte dos leitos hospitalares está ocupada com vítimas do trânsito. A maior parte da violência no trânsito tem como causa a imprudência dos motoristas, dos pedestres dos ciclistas e dos passageiros de veículo automotor, que cometem infrações desrespeitando as leis de trânsito e os cuidados com a segurança e a saúde. A diminuição da violência no trânsito se dá, principalmente, através de um processo de conscientização educacional que dê preferência à vida, propiciando aos indivíduos pensar e alterar suas atitudes no trânsito.

Como educar?

Para que haja educação tem que haver APRENDIZAGEM.

O que é aprendizagem?

É o ato de adquirir e construir conhecimentos, um processo que envolve toda a atividade do ser humano: biológica, psicológica, social e cultural, nos seus múltiplos aspectos.

Segundo Campos (CAMPOS, Dinah Martins de Souza. Psicologia da Aprendizagem. 37ª ed. Editora Vozes. Petrópolis, 2008.), a aprendizagem ocorre através da atividade do aprendiz, tanto física quanto mental e emocional. Na escola, por exemplo, ela depende muito mais da reação dos alunos aos fatores apresentados, do que do conteúdo dos livros e da metodologia dos professores. É um processo dinâmico e cumulativo, ou seja, uma ação que se estabelece entre um conhecimento já apreendido e um novo conhecimento a adquirir. É um processo contínuo, aprendemos durante toda a existência. É também um processo pessoal, um não pode aprender pelo outro, e global, quando envolve uma mudança de comportamento exige a participação total e global do indivíduo a fim de que seja estabelecido o equilíbrio vital.  

Aprendemos quando estamos motivados para isso. O que motiva a aprendizagem?
  
A motivação pode acontecer influenciada por várias razões, entre elas: A necessidade de adaptação ao ambiente, em constante mudança. Direcionando ao tema trânsito, podemos citar a necessidade de adaptação às mudanças na engenharia e na legislação de trânsito. O cidadão precisa aprender a transitar obedecendo às mudanças no espaço físico. O engenheiro de tráfego precisa da educação para obter bons resultados nos seus projetos. Da mesma forma, para que as mudanças nas leis de trânsito produzam efeitos positivos, é necessário que os indivíduos aprendam a obedecer-lhas.

Outra motivação é a tomada de consciência do valor daquilo que vai aprender. Isso se consegue por meio da REFLEXÃO. Quando pensamos sobre uma ação ou sobre uma situação, há uma grande chance de aprendermos com isso, há uma grande chance de revermos nossas atitudes e corrigirmos aquelas que estão inadequadas.

E como provocar a reflexão?

Isso é um desafio! Em primeiro lugar é necessário despertar o INTERESSE, isso varia conforme a idade, classe social, classe cultural, entre outros fatores...

 É importante a aplicação de recursos educativos adequados ao público alvo. É preciso boa argumentação, capaz de convencer sobre o que desejamos construir. Sendo assim, será que uma campanha educativa, realizada com recursos educativos adequados ao público alvo, que desperte o interesse da maioria dos participantes, que provoque a reflexão sobre atitudes corretas e incorretas no trânsito, é de qualidade? É eficiente? Vai refletir na aprendizagem e na mudança de atitudes no trânsito?

Em um primeiro momento, sim. No entanto, para que essa aprendizagem adquirida não se perca por conta de outros interesses, não basta fazermos campanhas educativas apenas na Semana Nacional do Trânsito ou em outras datas pontuais, elas devem ser permanentes. É fundamental que haja acompanhamento e CONTINUIDADE.

Irene Rios

14 de jul. de 2010

25 de Julho - Dia do Motorista

Acorda Motorista!

Ritmo: "Faz três noites que eu não durmo / Ai, ai, ai! / Pois perdi o meu galinho / Ai, ai, ai..."

Se você está com sono, Ai, ai ai! 
Dirigir então não deve, Ai, ai, ai!
É um perigo! Ai, ai, ai! 
Meu amigo, Ai, ai, ai! 
Para quê se aventurar?

Dirigir é um ato sério, Ai, ai, ai! 
De responsabilidade, Ai, ai, ai! 
Vá sem pressa, Ai, ai, ai! 
Descansado. Ai, ai, ai! 
Não Convém se arriscar.  

Irene Rios  

Veja também:

 

1 de jul. de 2010