Estudo patrocinado pelo Ministério da Saúde analisa a associação entre o consumo de álcool e os acidentes de trânsito nas cinco regiões brasileiras
Pesquisa inédita desenvolvida pelo Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), em parceria com o Centro de Prevenção às Dependências (CPD) e patrocínio do Ministério da Saúde e Prefeitura do Recife, aponta a existência de fatores "invisíveis" que contribuem para os altos índices de acidente de trânsito do País. Desenvolvido em seis capitais brasileiras (Recife, Manaus, Fortaleza, Brasília, São Paulo e Curitiba), o estudo mostra que pedestres, ciclistas e passageiros também são responsáveis pelos acidentes de trânsito e alerta para a necessidade de políticas públicas de educação voltadas a esses outros agentes, desconstruindo a ideia de que apenas os condutores dos veículos são responsáveis pelos acidentes e, portanto, devem ser alvos de campanhas educativas e medidas punitivas pelo Estado.
Intitulada “Consumo de Álcool e os acidentes de trânsito”, a pesquisa foi divulgada durante o lançamento do Pacto Nacional pela Redução de Acidentes no Trânsito – Pacto pela Vida, no Ministério das Cidades, em Brasília. O evento, promovido pelo Ministério da Saúde e Ministério das Cidades, marca o compromisso brasileiro com o Plano da Década de Ação de Segurança no Trânsito 2011-2020, promovido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
De acordo com a coordenadora geral da pesquisa, Ana Glória Melcop, é um equívoco pensar o consumo de álcool apenas sob a perspectiva dos condutores de veículos. No estudo - que analisou 1.248 vítimas de acidentes de trânsito nas seis capitais selecionadas, contemplando as cinco Regiões do País -, o atropelamento apresentou a segunda maior frequência entre os acidentes registrados em Manaus, Brasília e São Paulo; enquanto no Recife e em Curitiba, a queda foi a segunda forma de acidente mais frequente. Nas faixas etárias mais extremas, o atropelamento foi o acidente mais frequente, atingindo cerca de 52% das vítimas com 60 e mais anos e 47% das vítimas com idade até 9 anos.
"A legislação brasileira atual está correta em punir severamente os motoristas que dirigem com determinado nível de alcoolemia. Entretanto, é necessário considerar os outros atores do trânsito - pedestres, ciclistas e passageiros - que, sob efeito do álcool, arriscam igualmente as suas vidas nas vias públicas. O atropelamento é uma das principais causas de morte no trânsito e, na maioria das vezes, é o pedestre que está alcoolizado e se coloca em situação de risco por não ter condição de avaliar a distância e a velocidade dos veículos, e também pela falta de equipamentos de segurança e de orientação adequada", observa Melcop.
METODOLOGIA – Para realizar o estudo, pesquisadores ficaram de plantão durante sete dias, em 2008, nos principais serviços de emergência e nos Institutos Médicos Legais (IMLs) das seis cidades selecionadas, escolhidas por apresentarem os maiores números absolutos de acidentes de trânsito nas suas respectivas regiões, segundo dados do Ministério das Cidades. Embora o tipo de acidente predominante na pesquisa para o conjunto das cidades tenha sido a colisão (34,1%), os altos índices de queda (21,7%) e atropelamento (20,5%) chamaram atenção dos pesquisadores para a atual negligência em relação a esses agentes.
“A Lei Seca foi um passo essencial e vem salvando muitas vidas. Mas é preciso mais. Precisamos pensar em novas estratégias, pois ainda há muitas pessoas se ferindo e morrendo por causa da bebida no trânsito”, afirma Melcop.
PERFIL – Além de identificar esses fatores até então tidos como de pouca influência no número geral dos acidentes de trânsito, e a necessidade de maior atenção pelo Poder Público para essa questão, a pesquisa também traçou um perfil dos acidentados no sistema viário brasileiro, no qual prevaleceram os homens (74,2%), jovens (entre 20 a 29 anos), com escolaridade média (até o 2º grau ou médio), solteiros (55,4%), morenos ou pardos (56,5%), e na sua maioria desempregados ou desocupados seguidos por estudantes, motociclistas e ciclistas de entregas rápidas. Os motociclistas constituíram a maior proporção das vítimas (40,1%). Na segunda posição ficaram os pedestres e os ciclistas.
Em relação ao consumo de álcool pelos motoristas, a prevalência de alcoolemia positiva entre os acidentados no conjunto de cidades foi de, aproximadamente, 27%. A alcoolemia positiva se dá quando o teor ultrapassa 0,2g/l de sangue. Fortaleza foi a cidade que registrou o maior índice (36,5%) e Brasília o menor (16,3%). Os homens apresentaram prevalência uma vez e meia maior que as mulheres. E, para quem pensa ser 'típico' dos jovens a imprudência na hora de combinar álcool e direção, uma surpresa: as maiores prevalências em relação à faixa etária foram verificadas entre 50 e 59 anos (32,6%) e entre 40 e 49 anos (32,4%).
O estudo também formatou uma série de recomendações a serem adotadas pela sociedade e pelo Poder Público. Entre elas está o maior investimento na formação dos agentes de trânsito, a priorização da formação do pedestre, uma melhor avaliação das condições dos veículos e das vias, a integração das políticas públicas e o comprometimento da sociedade, entre outras.
Informações à imprensa:
(81) 3426.2263
Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/aplicacoes/noticias/default.cfm?pg=dspDetalheNoticia&id_area=124&CO_NOTICIA=12604 - Acesso em 26/05/2011
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