A tensão é total nas ruas de Manaus, Rio e São Paulo. Florianópolis e Brasília estão entre as poucas exceções. E SP quer ir pelo mesmo caminho. O próximo passo será apertar o cerco com as multas.
O Fantástico deste domingo (15) mostrou flagrantes impressionantes da guerra no trânsito. Na semana em que a maior cidade do país lança o programa “Respeito ao Pedestre”, nós fazemos o teste da faixa. Quem respeita e quem passa a toda velocidade?
Na Zona Leste de São Paulo, às 16h, uma mãe parada na faixa tenta aflita atravessar a rua com o filho de apenas 1 ano. Passam três carros e, finalmente, vem um respiro. Mas falta coragem. São mais carros e motos. A mãe conta que às vezes leva 10 minutos para atravessar.
Imagens de câmeras de segurança na Grande São Paulo mostram o risco dos pedestres, mesmo atravessando na faixa. Só na capital paulista, 630 pessoas morreram atropeladas em 2010. Isso representa quase metade do total de mortes por acidentes de trânsito na cidade.
Em frente a uma estação de trem, por onde passam milhares de passageiros todos os dias, a repórter tenta saber qual é a experiência que têm esses passageiros? O Fantástico foi a outras quatro capitais brasileiras. A tensão é total nas ruas de Manaus e do Rio.
“Não respeitam a faixa de pedestre. Passam direto, avançam e ainda xingam. Mandam tomar lá, tomar cá. O dia todo é isso, ninguém respeita ninguém”, comenta o vendedor ambulante Leandro Mangia.
“Eu tenho que aguardar a melhor oportunidade que eu acho para passar e corro”, diz um homem em Manaus.
Florianópolis e Brasília estão entre as poucas exceções. Nessas cidades, o respeito é maior. Uma campanha lançada em 1997 no Distrito Federal reduziu em 30% as mortes no trânsito.
“Na época, poucos acreditavam que pudesse dar certo. Hoje, nós estamos vendo os resultados”, comemora Renato Azevedo, ex- comandante do Batalhão de Trânsito de Brasília.
São Paulo quer ir pelo mesmo caminho. O próximo passo será apertar o cerco com as multas. O Código de Trânsito diz que o pedestre tem sempre a preferência quando estiver atravessando a rua. No semáforo, ele deve esperar até que o sinal feche para os carros. Onde existe apenas a faixa, o motorista é obrigado a parar. O desrespeito à lei é falta gravíssima, sujeita a sete pontos na carteira e multa de R$ 191,54.
Dois dias depois do lançamento da campanha, a equipe de reportagem do Fantástico foi à região da Sé, no Centro de São Paulo. Com Luiz Carlos, representante da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), a equipe atravessou a faixa de pedestres algumas vezes. Luiz quase é atropelado.
“Viu como eles ameaçam e como eles entram em velocidade?”, se assusta Luiz Carlos Néspoli, gerente de Educação da CET/SP.
O representante da CET nota como será difícil educar motoristas. “Hoje é temerário, porque a cultura do motorista é essa: de avançar e de ver em você, talvez, o inimigo”, comenta.
É difícil educar também os pedestres. “Um senhor está no lugar errado. Ele não deveria estar atravessando. Ele também precisa aprender isso”, aponta Luiz Carlos.
O desrespeito não é só no Brasil. Em Nova York, por exemplo, os pedestres abusam. Por lei, eles têm a preferência, mas os pedestres andam no meio da rua e atravessam em qualquer lugar. Em Paris, os pedestres lotam as ruas. Os carros reduzem a velocidade, mas nem sempre param e é preciso andar no meio deles.
E quando o pedestre está totalmente errado? De volta ao Brasil, um sequência esquisita foi gravada na Grande São Paulo: uma moça atravessa. O carro para antes da faixa e nem encosta nela, mas a mulher se joga no chão. Faz drama, arma uma cena e ainda atrapalha o trânsito. Outro erro: os pedestres ignoram a passarela, que está a poucos metros.
Para a Associação Brasileira de Pedestres, isso só piora a agressividade nas ruas. “É uma perturbação perigosa, principalmente quando tem várias pessoas envolvidas, porque acaba gerando uma espécie de bagunça. E a bagunça onde tem gente motorizada, quem leva a pior? É quem está só com a roupinha no corpo. Em uma avenida de trânsito intenso, veículos andando a 60 ou mais quilômetros por hora - normalmente brasileiro não respeita o limite certinho , ele vai um pouquinho mais - é mortal”, afirma o presidente da Associação Brasileira de Pedestres, Eduardo Daros.
É o que diz um estudo internacional. O impacto de um carro em alta velocidade é tão intenso que uma pessoa atropelada a 50 quilômetros por hora tem só 15% de chance de sobreviver. Se a velocidade chegar a 70 quilômetros, dificilmente a vítima resiste.
Aos 17 anos, Priscila foi atropelada por um ônibus em alta velocidade. Ela estava na faixa de pedestres. “Quando ela estava atravessando na faixa, um micro-ônibus passou e a jogou longe”, conta a tia de Priscila, Cláudia Gomes.
A jovem teve traumatismo craniano. Passou quase dois anos em coma. “Paciente que é sujeito ao trauma de crânio pode apresentar essas complicações que dificultam muito sua reinserção na sociedade”, afirma Marcelo Ares, gerente médico de reabilitação da AACD.
Priscila não se lembra do acidente. Perdeu 90% da visão e não anda. O motorista que a atropelou foi condenado a penas alternativas. “Eu acho que o ser humano precisava se conscientizar”, opina a tia da vítima.
A conscientização parece ser um caminho. Afinal, ninguém mais quer ver o trânsito produzir vítimas.
“Você adquire um hábito repetindo, praticando, praticando e praticando. É um processo. Toma consciência, aprende a fazer o certo e repete, repete, repete até se tornar um hábito, como foi o cinto de segurança, por exemplo”, associa Luiz Carlos, representante da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET).
Na Zona Leste de São Paulo, às 16h, uma mãe parada na faixa tenta aflita atravessar a rua com o filho de apenas 1 ano. Passam três carros e, finalmente, vem um respiro. Mas falta coragem. São mais carros e motos. A mãe conta que às vezes leva 10 minutos para atravessar.
Imagens de câmeras de segurança na Grande São Paulo mostram o risco dos pedestres, mesmo atravessando na faixa. Só na capital paulista, 630 pessoas morreram atropeladas em 2010. Isso representa quase metade do total de mortes por acidentes de trânsito na cidade.
Em frente a uma estação de trem, por onde passam milhares de passageiros todos os dias, a repórter tenta saber qual é a experiência que têm esses passageiros? O Fantástico foi a outras quatro capitais brasileiras. A tensão é total nas ruas de Manaus e do Rio.
“Não respeitam a faixa de pedestre. Passam direto, avançam e ainda xingam. Mandam tomar lá, tomar cá. O dia todo é isso, ninguém respeita ninguém”, comenta o vendedor ambulante Leandro Mangia.
“Eu tenho que aguardar a melhor oportunidade que eu acho para passar e corro”, diz um homem em Manaus.
Florianópolis e Brasília estão entre as poucas exceções. Nessas cidades, o respeito é maior. Uma campanha lançada em 1997 no Distrito Federal reduziu em 30% as mortes no trânsito.
“Na época, poucos acreditavam que pudesse dar certo. Hoje, nós estamos vendo os resultados”, comemora Renato Azevedo, ex- comandante do Batalhão de Trânsito de Brasília.
São Paulo quer ir pelo mesmo caminho. O próximo passo será apertar o cerco com as multas. O Código de Trânsito diz que o pedestre tem sempre a preferência quando estiver atravessando a rua. No semáforo, ele deve esperar até que o sinal feche para os carros. Onde existe apenas a faixa, o motorista é obrigado a parar. O desrespeito à lei é falta gravíssima, sujeita a sete pontos na carteira e multa de R$ 191,54.
Dois dias depois do lançamento da campanha, a equipe de reportagem do Fantástico foi à região da Sé, no Centro de São Paulo. Com Luiz Carlos, representante da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), a equipe atravessou a faixa de pedestres algumas vezes. Luiz quase é atropelado.
“Viu como eles ameaçam e como eles entram em velocidade?”, se assusta Luiz Carlos Néspoli, gerente de Educação da CET/SP.
O representante da CET nota como será difícil educar motoristas. “Hoje é temerário, porque a cultura do motorista é essa: de avançar e de ver em você, talvez, o inimigo”, comenta.
É difícil educar também os pedestres. “Um senhor está no lugar errado. Ele não deveria estar atravessando. Ele também precisa aprender isso”, aponta Luiz Carlos.
O desrespeito não é só no Brasil. Em Nova York, por exemplo, os pedestres abusam. Por lei, eles têm a preferência, mas os pedestres andam no meio da rua e atravessam em qualquer lugar. Em Paris, os pedestres lotam as ruas. Os carros reduzem a velocidade, mas nem sempre param e é preciso andar no meio deles.
E quando o pedestre está totalmente errado? De volta ao Brasil, um sequência esquisita foi gravada na Grande São Paulo: uma moça atravessa. O carro para antes da faixa e nem encosta nela, mas a mulher se joga no chão. Faz drama, arma uma cena e ainda atrapalha o trânsito. Outro erro: os pedestres ignoram a passarela, que está a poucos metros.
Para a Associação Brasileira de Pedestres, isso só piora a agressividade nas ruas. “É uma perturbação perigosa, principalmente quando tem várias pessoas envolvidas, porque acaba gerando uma espécie de bagunça. E a bagunça onde tem gente motorizada, quem leva a pior? É quem está só com a roupinha no corpo. Em uma avenida de trânsito intenso, veículos andando a 60 ou mais quilômetros por hora - normalmente brasileiro não respeita o limite certinho , ele vai um pouquinho mais - é mortal”, afirma o presidente da Associação Brasileira de Pedestres, Eduardo Daros.
É o que diz um estudo internacional. O impacto de um carro em alta velocidade é tão intenso que uma pessoa atropelada a 50 quilômetros por hora tem só 15% de chance de sobreviver. Se a velocidade chegar a 70 quilômetros, dificilmente a vítima resiste.
Aos 17 anos, Priscila foi atropelada por um ônibus em alta velocidade. Ela estava na faixa de pedestres. “Quando ela estava atravessando na faixa, um micro-ônibus passou e a jogou longe”, conta a tia de Priscila, Cláudia Gomes.
A jovem teve traumatismo craniano. Passou quase dois anos em coma. “Paciente que é sujeito ao trauma de crânio pode apresentar essas complicações que dificultam muito sua reinserção na sociedade”, afirma Marcelo Ares, gerente médico de reabilitação da AACD.
Priscila não se lembra do acidente. Perdeu 90% da visão e não anda. O motorista que a atropelou foi condenado a penas alternativas. “Eu acho que o ser humano precisava se conscientizar”, opina a tia da vítima.
A conscientização parece ser um caminho. Afinal, ninguém mais quer ver o trânsito produzir vítimas.
“Você adquire um hábito repetindo, praticando, praticando e praticando. É um processo. Toma consciência, aprende a fazer o certo e repete, repete, repete até se tornar um hábito, como foi o cinto de segurança, por exemplo”, associa Luiz Carlos, representante da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET).
Disponível em: http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1662108-15605,00-TESTE+MOSTRA+QUEM+RESPEITA+AS+FAIXAS+DE+PEDESTRES+NAS+GRANDES+CAPITAIS.html Acesso em 15/05/2011.
Descrevo as dificuldades dos pedestres para atravessar as ruas, na crônica a seguir:
Travessia arriscada
Atravessar a rua em nossas cidades é um desafio. Em determinados lugares, é preciso fazer uma grande caminhada até encontrar uma faixa de pedestre ou uma passarela. Após encontrar a tal faixa, para atravessar, tem que esperar, esperar e esperar.
Sinto isso na própria pele. Quando saio da universidade, preciso atravessar uma pista de mão dupla, com quatro faixas. Caminho até a faixa de pedestre e paro, aguardando a boa educação dos condutores. Depois de alguns minutos, alguém resolve parar, geralmente é um homem que aproveita para dizer alguma “gracinha”.
Mesmo vendo que o motorista de uma das faixas parou, só arrisco a travessia quando tenho certeza de que o condutor da faixa ao lado também está com o veículo parado. Muitos pedestres são atropelados porque não tomam tal precaução, ou seja, se precipitam e são atingidos pelos veículos da outra faixa.
Atravesso até o centro da pista, pois geralmente os condutores das faixas contrárias não pararam. Fico ali sem me mover, feito uma estátua, com veículos passando pelos dois lados. Passam tão perto que posso sentir o vento provocado por eles em meu corpo. Estico o corpo o quanto posso, permanecendo em posição de sentido. Coloco o quadril bem para frente, com receio de que seja atingido por algum dos veículos. Nesse momento, agradeço por não ser obesa.
Por incrível que pareça, muitos motoristas, mesmo percebendo a minha condição de perigo, seguem em frente sem dar a mínima importância.
Enfim, quando eles resolvem parar, termino a travessia. Chegar ao outro lado da rua é uma conquista. Dá uma sensação de alívio e de vitória ao mesmo tempo.
Irene Rios
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