5 de jul. de 2014

Curitiba (PR) implementa primeira Via Calma para bicicletas do país




Foto: DivulgaçãoCuritiba (PR) implementa primeira Via Calma para bicicletas do país

Arquiteto esclarece funcionamento da recente iniciativa e sua importância para a segurança de todos os ciclistas.


Está em fase final de implantação a primeira Via Calma do Brasil, localizada na Avenida Sete de Setembro, entre a Rua Mariano Torres e a Praça do Japão, na região central de Curitiba (PR). Com uma extensão de 6,3 km, a Via Calma tem o propósito de tornar o trânsito mais humanizado, proteger o pedestre e priorizar o ciclista em relação aos veículos automotores, harmonizando e facilitando o deslocamento intermodal num espaço que deve ser compartilhado por todos.

O presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba, o arquiteto Sérgio Póvoa Pires, falou com aAgência CNT de Notícias e esclareceu detalhes da iniciativa e sua importância para a segurança do trânsito.

O que é a Via Calma?

A implantação da Via Calma pode ser comparada à criação do primeiro calçadão do Brasil, na Rua das Flores, em 1971. Trata-se de uma mudança de paradigma: num momento em que o carro pode tanto, a ideia é acalmar a cidade, é trazê-la para um ritmo mais natural, é diminuir a agressividade do trânsito. Além de desacelerar, a palavra chave para trafegar na Via Calma é tolerância.

Como funciona a Via Calma?

Os ciclistas passarão a transitar pelo lado direito da via (nos dois sentidos), sobre área demarcada em linha tracejada. A velocidade máxima permitida para bicicletas, carros e motos é de 30 km/hora. Para tanto, está sendo implantada ampla sinalização horizontal e vertical. Os ônibus permanecem circulando nas canaletas exclusivas.

Há também bicicaixas instaladas nos cruzamentos da Via Calma da Avenida Sete de Setembro. Elas criam uma área especial de parada para bicicletas nos semáforos, entre a faixa de pedestres e a área de veículos motorizados. Dessa forma, protegem e priorizam os ciclistas quando abre o sinal. Também garantem mais segurança aos ciclistas nos cruzamentos e asseguram a prioridade para as bicicletas na realização de conversões. Somente os ciclistas podem ocupar a área das bicicaixas, assim como o acesso a essas áreas, que são sempre demarcadas em vermelho.

Como deve ser utilizada a Via Calma?

Os ciclistas devem trafegar dentro da faixa demarcada pela linha tracejada, têm prioridade na via e nos cruzamentos, devem respeitar a velocidade máxima de 30 km/h, devem usar os dispositivos necessários para serem “vistos” pelos motoristas (tais como luz traseira vermelha e luz dianteira branca), também é aconselhável a utilização de equipamentos de segurança, especialmente o capacete, quando houver um carro embarcando ou desembarcando pessoas, os ciclistas podem contornar esse veículo e depois devem retornar para a área da faixa tracejada. Além disso, os ciclistas podem circular pelas calçadas desde que desmontados de suas bicicletas. Nessa condição, eles têm os mesmos direitos que os pedestres. Os ciclistas têm preferência sobre a área tracejada, mas ela não é de uso exclusivo. No entanto, as bicicaixas, assim como as áreas de acesso a elas, devem ser utilizadas exclusivamente pelos ciclistas.
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Os motoristas e os motociclistas devem trafegar a uma velocidade máxima de 30 km/h na área reservada para os veículos automotores. Quando não houver ciclistas trafegando no local, os motoristas de carros e de motos poderão ocupar o espaço da faixa tracejada. Eles podem parar sobre a faixa tracejada apenas para embarque e desembarque de pessoas, sempre sinalizando sua intenção. No entanto, eles não podem, em momento algum, ocupar o espaço das bicicaixas e nem das áreas de acesso às bicicaixas, que são exclusivos dos ciclistas. Motoristas e motociclistas devem ceder à passagem aos ciclistas sempre que possível.

Já os pedestres nunca devem caminhar ou correr sobre a via de tráfego, nunca devem utilizar o espaço da faixa tracejada (essa área deve ser compartilhada somente por motoristas, motociclistas e ciclistas). Eles devem prestar atenção constante ao movimento dos veículos na Via Calma e ao ônibus dentro das canaletas e atravessar a rua somente nas áreas demarcadas para pedestres (travessias elevadas e faixas de segurança).

Qual a frota de carros, bicicletas e motos da cidade?

Dados do Detran de janeiro de 2013 dão conta de que Curitiba tinha, naquela data, mais de 1,3 milhão de veículos automotores (entre carros de passeio, motocicletas, ônibus, caminhões e outros). O número de eleitores, em 2013, era de 1 milhão e 180 mil pessoas. Já tínhamos, portanto, no início de 2013, mais veículos automotores do que eleitores.

Em relação à quantidade de ciclistas, estudos anteriores indicavam que entre 2% e 3% dos deslocamentos em Curitiba eram realizados por bicicleta. Acredita-se que, com a implantação de mais 300 km de vias cicláveis em Curitiba até o final de 2016, ampliando substancialmente a conectividade entre ciclovias, ciclorrotas, ciclofaixas e passeios compartilhados, o número de cicilistas na cidade deva aumentar substancialmente. Na atualidade, muitas pessoas deixam de utilizar a bicicleta como meio de transporte em função da insegurança do trânsito, da falta de conectividade entre as vias e, também, da falta de integração entre os modais. Com a implantação de bicicletários nos terminais de ônibus e, futuramente, no metrô, a integração intermodal será acelerada.

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Onde mais existe uma Via Calma?

Existem inúmeros exemplos de compartilhamento de vias por veículos automotores e bicicletas fora do Brasil, porém em moldes distintos (até porque o modelo de canaleta exclusiva ladeada por duas vias lentas foi criado por Curitiba). O compartilhamento de vias entre os diversos modais acontece especialmente nas cidades do mundo onde a ciclomobilidade é destaque, em países como Alemanha, França, Inglaterra e Holanda, entre muitos outros.

Em Curitiba, deverão ser implantadas outras vias calmas. A próxima deverá ser implantada na Avenida João Gualberto, que possui as mesmas características da Avenida Sete de Setembro.

O que motivou a criação da Via Calma em Curitiba?

A necessidade de acalmar o trânsito e de humanizar a cidade.

Foram pensadas outras alternativas?

Essa foi a alternativa adotada por Curitiba depois de muitas análises e pesquisas.

Há previsão de algo semelhante em outras cidades?

A Prefeitura Municipal de Curitiba é pioneira nessa iniciativa no Brasil. Não temos informações a respeito de outras cidades.

Já se percebe alguns resultados?

A Via Calma ainda está em fase de finalização e deverá ser oficialmente inaugurada nos próximos dias. Como se trata de algo novo em termos de Brasil e que exige mudança de comportamento por parte de todos os envolvidos – motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres –, calcula-se que levará um tempo para que as pessoas se adaptem. No início, será feita uma ampla campanha educativa. A análise formal, por meio de pesquisa, deverá ser realizada pelo IPPUC entre 60 e 90 dias após a inauguração. Dessa forma, poderá ser feito um comparativo entre o comportamento dos ciclistas um ano antes da implantação da Via Calma (agosto/2013) e um tempo após a inauguração.

Ana Rita Gondim
Agência CNT de Notícias

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