A sociedade do século XXI, virtual e motorizada, parece ter compreendido e construído um discurso de consenso em torno dos acidentes de trânsito: tem que mudar comportamentos senão não adianta! Por outro lado, a Psicologia afirma que mudar comportamentos é possível desde que os estímulos sejam adequados a aprendizagem desses novos comportamentos. Mas... leva tempo. Não se muda de comportamento assim da noite para o dia. O que pode parecer desanimador para nós, educadores de trânsito e pessoas engajadas nessa causa que é a luta diária no enfrentamento dos principais problemas relacionados ao trânsito, à circulação e mobilidade urbana, é uma luz no fim do túnel. Surge como uma possibilidade, uma vida efetiva de mudança, mas também um desafio maior ainda, que exige ainda mais paciência, afinal, não é tão fácil assim mudar comportamentos, mas é possível.
A gente fica se perguntando como mudar comportamentos no trânsito quando as ruas não tem mais para onde crescer e a estrutura arquitetônica urbana não tem mais como ser modificada, mas incentivam-se a compra de mais carros. Aumenta a quantidade de veículos nas ruas, as pessoas se estressam, se irritam mais facilmente, as dificuldades aumentam para todos que estão no trânsito e é onde mais acidentes são provocados.
Penso que a mudança de comportamento começa de cima, então, como mudar o comportamento do governo que baixa as alíquotas e percentuais de impostos facilitando a venda de carros pelas montadoras e concessionárias sem se preocupar com a estrutura e a segurança da malha viária no país?
Como mudar o comportamento das concessionárias de veículos cujo foco está em vender cada vez mais carros sem se engajarem em campanhas de segurança e mudança de comportamentos no trânsito como parte de sua responsabilidade social?
Como mudar os comportamentos dos gestores de trânsito nas cidades, que assistem inertes centenas de pessoas se envolvendo em acidentes e atropelamentos sem mover uma palha para tratar o assunto no âmbito de sua responsabilidade objetiva? Sem investir em campanhas educativas preventivas para orientar e informar a população?
E o comportamento de motoristas já habilitados, como mudá-lo para que passem a sinalizar todas as manobras no trânsito, para que não bebam e dirijam, para que não façam ultrapassagens em locais proibidos, para que respeitem mais a vida no trânsito acima de tudo?
Como mudar o comportamento dos pedestres para que atravessem na faixa de segurança, para que não saiam correndo irresponsável e perigosamente na frente dos carros tentando driblá-los e correndo o risco de perder a vida em alguns segundos de malabarismo no trânsito?
Como mudar o comportamento do jovem condutor que está na faixa das estatísticas (18 a 29 anos) e que mais morre no trânsito? Como mudar o comportamento de beber e dirigir, de fazer racha, cavalo de pau, de pisar fundo no acelerador? Como fazê-los entender que o som alto aumenta a sensação de isolamento no trânsito, que o cinto de segurança salva vidas e que empinar motos é uma imprudência que pode lhe custar a própria vida e dos outros?
Como mudar o jeitinho brasileiro de achar que existe saída para tudo? De achar (e quem vive achando só se perde) que pode estacionar na vaga do deficiente ou idoso porque não dá nada? Como mudar o comportamento de motoristas que estacionam em vagas proibidas, na frente de garagens, que fazem manobras arriscadas e proibidas no trânsito em troca de alguns metros a menos até o próximo retorno permitido?
Cada um no âmbito de sua atuação, daquilo que acredita e defende em razão direta da visão que tem do trânsito tem procurado fazer a sua parte: a turma dos ciclistas defendem e estimulam o uso da bike como principal meio de transporte, mas tem sido as principais vítimas da falta de sinalização adequada, da falta de espaços seguros e bem planejados para ciclovias e ciclofaixas, vítimas da falta de paciência, desrespeito e imprudência de muitos motoristas.
Aquele motorista que fica nervoso, dá socos no volante, xinga, buzina, que reclama dos engarrafamentos diários é o mesmo que se recusa a viver sem o carro: o carro fica na oficina uma semana e parece que o ser humano que o dirige perdeu a própria identidade; parece que o mundo vai acabar.
Então, senhores educadores de trânsito, autoridades, motoristas, técnicos em engenharia de tráfego, essa é a realidade que temos no Brasil: as estatísticas aumentam a cada dia, mais pessoas mortas, mutiladas, sequeladas, inválidas como consequência de acidentes de trânsito. Percam a ilusão de que a resolução para esses problemas está nas mãos dos gestores de trânsito. Percam a ilusão de que tudo vai se ajeitar, porque as cidades não tem mais para onde crescer; porque diariamente aumenta o número de carros nas ruas; porque não existem soluções milagrosas e a única saída que temos é a mudança de comportamentos. Mas isso, também não acontece da água para o vinho.
Comportamento no trânsito se muda e se aprende quando existe vontade de mudar, quando as ações são sistêmicas, quando toda a sociedade se envolve, se engaja, assume esse compromisso e participa. O comportamento humano no trânsito só muda quando existe intencionalidade. Cada pessoa age no trânsito como age na vida e o modo como agimos é influenciado, é resultado de todas nossas aprendizagens ao longo da vida. É influenciado pela nossa visão de mundo, pelas crenças, pelo modo de pensar que orienta nossas atitudes. É resultado do que aprendemos ou deixamos de aprender com nossas vivências e experiência ao longo de nosso processo de construção como seres humanos e como cidadãos.
Uma coisa é líquida e certa: ou se muda o comportamento humano no trânsito ou a situação tende a ficar mais caótica ainda, fora de controle. Os custos sociais gerais dos acidentes de trânsito tendem a ser maiores ainda, e não falo só dos custos do conserto do carro, mas do custo social de uma criança que vai crescer sem os pais mortos em acidentes em trânsito. Falo do custo social de uma família que tem de cuidar para o resto da vida de um motorista que ficou sequelado, inválido, em estado vegetativo em acidente de trânsito. Falo do custo social dos resgates, do atendimento hospitalar, das indenizações, dos custos previdenciários, dos custos de reabilitação, da perda do emprego e da falta de sustento. Falo do custo social de comportamentos agressivos no trânsito.
Esse é o nosso desafio, senhores educadores de trânsito. Esse é o nosso desafio, sociedade: articular as ações preventivas e educativas de Educação Para o Trânsito; mobilizar os intelectuais, os políticos, os legisladores, as cabeças pensantes desse país para que as ações sejam integradas, coordenadas, com foco na mudança de comportamento humano no trânsito. É certo que a mudança é individual, começa pelo motorista, pelo pedestre, por todos que fazem o trânsito. É certo que a mudança é lenta, mesmo porque uma cultura em relação ao trânsito ou em relação ao "nosso jeito de fazer as coisas por aqui" não se muda assim tão rápido. Mas por maiores que sejam os desafios, não podemos desanimar. Não podemos esmorecer. A realidade do trânsito no Brasil e no mundo não é novidade para ninguém. Sabemos o que precisa ser feito. Daqui para frente vai depender do tipo de estímulos para que a mudança de comportamento seja provocada. Vai depender do modo como a sociedade vai se engajar, se mobilizar e começar a mudança.
olá muito boa amatéria esclarecedora e tudo que os motorista estão precisando eles não respeitam nas faixa eles ultrapassan por faixas duplas vem em alta velocidade o que resta e diminuir para não provocar um acidente,
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