20 de ago. de 2013

Acidentes não acontecem: são provocados!

Por Márcia Pontes

Via pública, faixa contínua dupla, pressa, cabeça ocupada com um monte de coisa enquanto dirige e o momento fatal em que o condutor resolve ultrapassar onde não deve. Daí vem a colisão frontal, uma das mais violentas, e diz-se que o acidente aconteceu.

Final de semana, balada, os jovens se reúnem, fazem um “esquenta” antes em algum barzinho ou pub da cidade, continuam a festa em alguma boate ou danceteria (como queiram) e voltam para casa dirigindo. Vai dizer que não era de se prever o acidente?

Em Blumenau (SC), numa das ruas em que mais se provocam imprudências eacidentes e em cujas imediações há um pub que atrai bastante público, um jovem condutor resolve dirigir depois de beber, sair de uma rua local para pegar a rua preferencial na contramão e de óculos escuros. O acidente aconteceu?

Em muitas fotos que ilustram manchetes de acidentes, bem próximo do veículo destruído ou do corpo sem vida é comum ter uma faixa amarela contínua dupla indicando que naquele local não é permitido ultrapassar. Mas, o condutor ultrapassa, provoca a colisão frontal e depois saem dizendo por aí que a rua tal ou a rodovia tal matou mais um.

Que animismo é esse de dar vida às vias públicas que estão lá inertes, quando, na verdade, quem mata ou morre pelas mãos dos outros são os motoristas?

O professor Reinier Rozestraten, um dos maiores estudiosos do comportamento humano e da Psicologia Social e do Trânsito já dizia: mais de 90% dos acidentes são provocados por causas humanas. O Direito positivou que dentre essas causas estão a imperícia, a negligência e a imprudência.

A Organização Mundial da Saúde estima que 90% dos acidentes de trânsito são causados por falha humana, 6% pelas condições inadequadas das vias e 4% por falhas mecânicas.

Mas, eu fecho mesmo é com o piloto e instrutor de direção defensiva, Roberto Manzini, que diz que 100% dos acidentes são provocados por falhas humanas. É certo que 90% dos motoristas não fazem o que deveriam fazer para evitar a imperícia, a imprudência e a negligência, mas onde há vias em condições inadequadas de tráfego foi alguém, uma pessoa ligada ao poder público e ao órgão executivo com jurisdição sobre a via que deixou de corrigir a imperfeição que causou o acidente.

Tanto é que quando um acidente é provocado por péssimas condições da via cabe acionar na Justiça o poder público e exigir indenização com base na responsabilidade civil e na obrigação de mantê-las em bom estado de conservação para um tráfego seguro.

Por outro lado, onde há falha mecânica há a falta de revisão preventiva dos veículos, uma obrigação dos seus proprietários, sejam pessoas física ou jurídica. Notem que tem sempre uma ação humana por trás dos acidentes.

Mesmo quando um condutor vem trafegando em sua mão de direção, respeitando a sinalização e mantendo a prudência e acaba se envolvendo num acidente a falha foi humana. Não dele, mas de outro humano que vinha dirigindo o seu carro, cometeu uma imprudência, imperícia ou negligência e acabou provocando o acidente.

Cabe lembrar que no trânsito nunca estamos sozinhos e sua definição mais apropriada é a de um espaço compartilhado em que as ações de um tem consequências para os outros. Por isso, é que o acidente não acontece: ele é provocado.

Acidente é algo fortuito, que não se pode prever, um evento inesperado e que não se pode evitar. Tudo aquilo que se pode prever e evitar não acontece, não é acidente, é tragédia anunciada.

Acidente em cruzamento: tem como evitar? Como se evita? Ora, basta que um não espere que o outro faça o que ele tinha que fazer! Ou seja, basta que se tome todos os cuidados e se aja com a prudência necessária de parar, olhar, buscar contato visual com o outro condutor ou pedestre, antecipar-se às suas intenções e até ceder a preferencial para evitar o pior.

Se pudéssemos voltar todo acidente em câmera lenta, identificar o que o provocou e corrigir esta seria a constatação: todo acidente pode ser evitado.

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