Por Archimedes Raia Jr.
Enquanto os países da Europa, América do Norte, Ásia e Oceania avançam na segurança no trânsito, o Brasil regride. Exemplo disso é que ele ficou de “recuperação” na avaliação da ONU, pelo seu péssimo desempenho neste setor. Para se ter uma ideia, em todos os países da União Europeia (EU), em 2012, morreram 28 mil pessoas, enquanto que no Brasil foram mais de 43 mil. Ponderando-se o número de mortes pela população, tem-se que na EU foram 55 mortes por grupos de um milhão de habitantes; no Brasil, essa taxa atinge 215, segundo dados do DATASUS. Pelos dados do DPVAT, a taxa atinge o valor assustador de 300 mortes/1 milhão de habitantes. Chocante!
Grande parte desses países adotou medidas extremamente rigorosas nos campos de engenharia de tráfego, educação para o trânsito e legislação/fiscalização. Outro aliado estratégico foi a adoção da filosofia desenvolvida na Suécia, denominada de Visão Zero. Ela parte do pressuposto ético de que não é aceitável que pessoas morram ou fiquem gravemente feridas no trânsito. Este objetivo pode parecer utópico, no entanto, ele norteia todas as ações voltadas para o trânsito nesses países. E funciona.
Para citar um exemplo maior de sucesso, tem-se a Alemanha, onde a mortalidade devido aos acidentes de trânsito reduziu mais de 80% nos últimos quarenta anos. O governo alemão tem como objetivo a ser atingido encerrar um ano completo sem que se registre uma única vítima fatal. Outro exemplo significativo é a Austrália, onde a fatalidade viária despencou cerca de 40% nos últimos 20 anos. Também a China, em dez anos, desenvolveu esforços para modificar a tragédia da acidentalidade viária, que era a principal causa de óbitos entre pessoa com até 45 anos. A perda de vidas chinesas devido aos acidentes envolvendo veículos de duas rodas e atropelamentos retrocedeu 43% entre 2002 e 2011. Enfim, o sucesso das ações desses países se deveu, sobretudo, às fortes e consistentes ações, muitas vezes impopulares, como é o caso da fiscalização e da punição exemplar.
Nestes últimos anos, um fator que tem contribuído sobremaneira para o recrudescimento da matança no trânsito são as motocicletas. Os óbitos envolvendo motociclistas, de 1996 a 2011, cresceram absurdos 932%, para um crescimento da frota de cerca de 500%, enquanto que aqueles associados aos usuários dos automóveis subiram 73% (crescimento da frota de 140%). O excesso de velocidade, a imprudência, o ziguezaguear entre os carros, a pouca formação são as principais causas.
Dentre os carros, as principais causas são: usar o celular, dirigir sob o efeito de bebidas, drogas (lícitas e ilícitas), imprudência, veículos sem a devida manutenção e a má formação de condutores.
De outro lado, ao se analisar as propostas apresentadas pelos presidenciáveis, em suas mais distintas manifestações, pouco ou nada se falou em relação a essa tragédia cotidiana da morbimortalidade no trânsito. Será que a morte de 55 mil brasileiros, e outros 445 mil com invalidez permanente, segundo dados do DPVAT para 2013, não merecem um mínimo de atenção? A dor sofrida pelas famílias e os altos custos sociais promovidos pela hecatombe do trânsito não sensibilizam os possíveis líderes da Nação. Sensibilizará a população? O exemplo convence, o exemplo arrasta! Onde está o exemplo?
O autor é doutor em Engenharia de Transportes e especialista em trânsito, professor da UFSCar, diretor de Mobilidade da Assenag e articulista do JC.
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