SERÁ QUE CONSEGUIREMOS?
Dr. Dirceu Rodrigues
Alves Jr.
Nossa realidade no
trânsito e a negligência das autoridades para preservar vidas os levam a buscar
alternativas para no fim da década ter reduzido de maneira drástica nossas
perdas. Essas alternativas quando executadas têm apenas início, esvaindo-se sem
produzir uma mudança de comportamento com relação à mobilidade. Estamos
perdendo jovens extremamente saudáveis, em fase altamente produtiva,
transformando- os em doadores de órgãos. Pior, trazendo prejuízo econômico de
grande escala ao país.
Estamos
evoluindo para o quarto ano da década de segurança viária proposta pela ONU.
Nada vemos como medidas cautelares assumidas pelos governos e tão pouco pela
sociedade.
A
motocicleta é hoje o veículo que mais aparece como motivo para indenizações do
DPVAT. Em 2012 constituíram 69% das indenizações. O fato justifica-se por
múltiplos fatores. Um deles é a concessão da CNH com treinamento inadequado em
local fechado, longe do trânsito e não conhecendo os obstáculos que serão
enfrentados no dia a dia. Nesse local fechado, é exigido manter o equilíbrio e
usar a primeira marcha. Feito isso é concedida a carta.
Foi ensinado
apenas fazer o veículo sair da inércia.
As multas
surgem meses após a infração cometida, muitas vezes o infrator nem lembra do
ocorrido. Mal feitores, anunciam nos postes das ruas, telefones de contato para
anular multas. Tal fato não é coibido pelo estado.
Uma conduta
justa para conhecer o trânsito e adquirir experiência seria antes de conceder a
CNH para a categoria A, conceder a B, quando se praticaria todas as situações
que serão vivenciadas no trânsito. O treinamento para atividade sobre duas
rodas deveria ser idêntico ao que a polícia militar dá a seus militares.
É necessária mudança radical com relação à
formação e concessão da CNH. A participação das empresas com palestras,
treinamentos, educação de trânsito continuada, acredito que estaria contribuindo
de maneira eficaz para redução das perdas de vidas e dos incapacitados,
principalmente entre jovens, que são mais aventureiros, radicais e que tudo
sabem e na realidade nada sabem.
O álcool é o
outro adversário para quem está na direção veicular. O hábito é universal, daí,
estimo que um terço dos 1,24 milhão óbitos ocorridos no planeta seja em
decorrência da bebida alcoólica.
A obediência
à lei seca é uma necessidade para todos que praticam a mobilidade sobre rodas,
porém, as atitudes de combate e controle do álcool e também das drogas são
hipócritas. Sem recursos humanos suficientes para atuar num país onde 56% dos
motoristas consomem bebidas alcoólicas.
Não posso
deixar de sinalizar que no Brasil, entre 13 e 17% dos motoristas são
dependentes químicos do álcool. No entanto, os que mais causam riscos são os
que fazem uso socialmente.
Quais seriam
as alternativas para redução do álcool na direção veicular?
Múltiplas
condutas poderiam ser adotadas:
- aumento do preço das bebidas alcoólicas
- transporte público para o usuário
- reduzir a comercialização nos fins de semana
- o número de acidentes é proporcional ao número de bares
- responsabilizar o comerciante que vende o produto
- retirada da CNH no ato da infração
- etilômetro conectado à ignição seria de grande valia, funcionando como equipamento de proteção individual e coletiva
- fiscalização ostensiva intensa
- punição severa
Acredito que
os dois últimos itens sejam mais eficazes em curto prazo e o etilômetro conectado
a ignição, de grande eficiência na prevenção de acidentes. Muitos países já
utilizam, alguns, nos motoristas reincidentes.
A União
Europeia atuou de maneira intensa no combate a utilização do álcool no
trânsito. Em 1990 teve 74 mil óbitos, em 2009, 35 mil, uma redução de mais de
50% em 20 anos.
No Brasil,
em curto prazo saímos dos 37 mil óbitos em 2010, para 60 mil em 2012 como
afirma o DPVAT. Crescemos quase 50% em quatro anos.
Outro fato
interessante é que de 2008 a 2012 houve uma queda do uso do rebite pelos
profissionais do volante e crescimento da utilização de maconha e cocaína.
Estatíscas
mostram que em cada dez acidentes rodoviários há dois caminhoneiros envolvidos.
Na avaliação da atenção sustentada desses indivíduos, 89% mostram-se muito
baixas, o que os predispõe ao acidente.
Necessitamos
no trânsito, uma vida sustentável, mas na realidade estamos transformando vidas
extremamente produtivas e saudáveis em doadores de órgãos.
Com tantas
situações encontradas para mobilidade humana em nosso território, somada a
atitudes governamentais que tem início, mas se esvaem, não tem continuidade e
com as estatísticas mostrando crescimento assustador de 2011 para cá, vemos que
a sustentabilidade da vida não está sendo vista como necessidade prioritária.
Dr. Dirceu Rodrigues Alves Júnior
Diretor de Comunicação e do Departamento de
Medicina de Tráfego Ocupacional da
ABRAMET (Associação Brasileira
de Medicina de Tráfego)
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