Dr. Dirceu Rodrigues Alves Jr.
Posso
comprovar que essa diferença é muito grande.
O Estado mostra sua
incapacidade de manter a segurança e a saúde pública. Não bastasse deixar livre
as vias para ação dos marginais é criado o amarelo piscante nos semáforos da
cidade de São Paulo.
A ausência de recursos
humanos, das CETs, Polícias Militares, Civis, Municipais e Rodoviárias do país é
o motivo principal para que não seja feita a fiscalização e ações ostensivas
contra os infratores do trânsito e da bandidagem.
Porque o contingente noturno
de policiais é tão pequeno? Porque pouco os vemos nas ruas?
As cidades precisam de
policiamento 24 horas por dia. Parece que as autoridades transitam na contramão
das nossas necessidades.
Criar o amarelo piscante é
afirmar categoricamente a incapacidade gestora. Não temos dúvida de que essa
condição permitirá o aumento dos sinistros em nossos cruzamentos. A velocidade
persistirá e esta é a principal causa dos nossos acidentes. Muitas coisas de
São Paulo são copiadas para o resto do país. Esse é um péssimo exemplo. E como
fica o pedestre num cruzamento desses?
Não é por esse caminho que
se reduzirá acidentes de trânsito e assaltos nos cruzamentos.
De longa data afirmamos que
existe uma doença epidêmica no nosso trânsito que é negligenciada pelos órgãos
governamentais. Estamos no terceiro ano da Década de Segurança Viária proposto
pela ONU e nossos acidentes continuam acontecendo com crescimento geométrico.
Nosso país tem ações nobres
na proteção à vida como é o caso do combate permanente a dengue. No entanto,
desconsideram os óbitos e sequelados no trânsito como uma doença epidêmica.
Ao abrir este site temos a
grande surpresa. De 1990 a 2012 isto é, em 22 anos o número de óbitos causados
pela dengue foi de 6.337. Isto corresponde a 15% dos óbitos ocorridos por
acidente de trânsito somente no ano de 2010, conforme o DATASUS. É
surpreendente o fechamento dos olhos das autoridades para esta outra epidemia
que de longa data vem sendo denunciada.
Oberve
que em 14 anos (de 1996 a 2010) morreram 518.000 cidadãos no trânsito desse
país.
Nem nas últimas guerras
morreu tanta gente. Só para exemplificar:
Guerra
da Chechênia – 25 mil óbitos
Guerra
civil de Angola – 20,3 mil óbitos
Guerra
do Iraque – 13 mil óbitos
E os números crescem, 2013
já mostra dados alarmantes.
No trânsito e transporte
precisamos de ações efetivas semelhantes às adotadas pelo Ministério da Saúde
que de longa data faz o combate ao mosquito Aedes Egipty. Nesse trabalho,
verbas astronômicas são gastas. São constituídas equipes em todo país para,
após longo treinamento, atuar de porta em porta, de caixa d’ água em caixa d’
água, de poça d’água em poça d’água para identificar larvas do mosquito e
destruir berçários. No entanto, em 2010 ocorreram 596 óbitos pela dengue. Nesse
mesmo ano, perdemos 42.000 cidadãos em acidentes de trânsito, além de ficarmos
com múltiplos sequelados.
Parece haver um disparate em
número de óbitos por dengue e por acidente de trânsito. A medida preventiva
tomada pelo Ministério da Saúde tem sido altamente eficiente. E porque essas
ações não são vistas de maneira holística para outros ministérios.
É do trânsito e transporte
que chegam aos hospitais milhares de vítimas, onde o obituário é assustador e
parece que isto não sensibiliza as autoridades a tomarem decisões imediatas
para contenção desse absurdo.
É aqui, nessa área da
mobilidade humana que ministérios precisam congregar-se para reduzirem nossas
perdas e os custos altíssimos de tratamento e também de incapacitados
definitivos para o trabalho. Perde o país mão de obra importante para o seu
crescimento e desenvolvimento.
Equipes treinadas como foram
as da dengue, deveriam estar atuando nos pontos críticos, onde os acidentes
acontecem a todo o momento, fiscalizando e punindo com severidade. Essa é uma
medida de curto prazo. Em longo prazo, educação com relação à mobilidade humana
desde a infância até o final da adolescência como prevê o Código Brasileiro de
Trânsito. E precisamos lembrar que todo motorista é um pedestre em potencial.
Somente dessa forma teremos
mudado radicalmente a cultura do povo brasileiro com relação à mobilidade.
Não é através de semáforo em
amarelo piscante que resolveremos ações de combate a violência no trânsito e
aos assaltos nos cruzamentos. Isso parece deixar que tudo mais possa acontecer.
Dr.
Dirceu Rodrigues Alves Júnior
Diretor
de Comunicação e do Departamento de Medicina de Tráfego Ocupacional da ABRAMET
- Associação Brasileira de Medicina de Tráfego
É verdade que existem grandes campanhas para combater a dengue, e isto não está errado, pois acontecem realmente muitas mortes, mas o que está sendo feito para diminuir as mortes no trânsito? Penso que as escolas tem um grande potencial para amenizar a violência no trânsito, introduzindo, desde as séries iniciais aula de educação para o trânsito, mas de forma permanente, não uma aula aqui, outra lá. Quem sabe, um dia isso muda.
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