21 de out. de 2015

Na Contramão

Por que corre tanto o homem?
Nasce escravo do ponteiro, no tic-tac da vida.
Hora de acordar, de comer, da escola, do dever ...
 ... Da partida.

Por que estrada segue o homem?
No corre-corre dos sonhos, já não vê outra saída.
Faculdade, bom emprego, carro novo, amor perfeito ...
 ... Apartamento na avenida.

Em que rua entra o homem?
Se esconde em compromissos, atrás da vã felicidade.
Academia, reunião, terapia, compras, facebook ...
 ... Ilusão da amizade.

Em que esquina para o homem?
Não tem mais o que procura, se entrega sem razão.
Dorme tarde, acorda cedo, come mal. Bebe, distrai ...
 ... Grito na contramão.

Já não corre muito o homem?
Tanto faz, não há roda, o que importa.
Amor se foi, memória apagou, emprego perdeu ...
 ... A casa está morta.

Já não corre nada o homem?
Achou sorte derradeira, sem medida, só lamento.
Atropela a própria vida, bate e abre a ferida, luta contra a sua dor ...
 ... Na carona, o sofrimento.

Ana Maria de Andrade
Carioca, escritora e ilustradora, jornalista e professora especialista em Educação. Dedica-se à literatura desde 2003.

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