Por GIULIA PAGLIARINI
O controle de estabilidade é considerado por especialistas como a maior inovação em segurança automotiva depois do cinto de segurança. Ele age para evitar acidentes antes que os airbags de seu carro, por exemplo, precisem entrar em ação. A partir de 2016, o Latin NCAP dará cinco estrelas apenas para os modelos que forem equipados com o dispositivo. Popularmente chamado de ESC, sigla em inglês para controle eletrônico de estabilidade, ele é obrigatório na Europa e pode se tornar compulsório no Brasil. Já deu pra perceber que ele é importante. Mas como funciona? Entenda abaixo.
Por que eu preciso de um carro com ESC?
O ESC impede que você perca o controle do carro em situações de risco, como curvas fechadas, desvios bruscos de rota e pisos escorregadios. Ele é capaz de reduzir acidentes fatais em 43%, de acordo com um estudo feito entre 2004 e 2006 pelo IIHS, instituto de segurança viária dos Estados Unidos. Um levantamento realizado em 2006 pela NHTSA, órgão federal que regulamenta o setor de transportes norte-americano, aponta que 83% dos capotamentos de SUVs foram evitados pelo dispositivo. O item também é apontado por especialistas como a maior inovação em segurança automotiva depois do cinto de segurança.
Como eu sei se meu carro tem controle de estabilidade?
O botão abaixo serve para desligar seu controle de estabilidade. Esse é um dos indicativos da presença do item no carro. Vale ressaltar que não é recomendado desativá-lo. Outra maneira de identificá-lo é consultar o manual ou a ficha técnica do modelo, em que o item costuma ser representado como ESC, sigla para “controle eletrônico de estabilidade” em inglês.
Além de ESC, existem outros nomes para o controle eletrônico de estabilidade?
Sim, pois muitas vezes a escolha do nome fica a critério da própria montadora. VSA (Vehicle Stability Assist), por exemplo, é como a Honda se refere ao seu controle de estabilidade. A Mercedes, por sua vez, usa o termo ESP (Electronic Stability Program). Outros nomes comuns são AdvanceTrac, Dynamic Stability Control (DSC), Dynamic Stability and Traction Control (DSTC), Vehicle Dynamic Control (VDC), Vehicle Stability Control (VSC), Vehicle Skid Control (VSC), Vehicle Stability Enhancement (VSE), StabiliTrak e Porsche Stability Management (PSM).
Quando o sistema sabe a hora certa para entrar em ação?
O controle de estabilidade consegue identificar se o movimento feito pelo motorista corresponde à direção real em que o veículo está se movendo. Se ele detecta que o condutor vira o volante para o lado contrário ao que o carro está indo, entra em ação.
Como ele faz para detectar isso?
O controle de estabilidade lê dados enviados por sensores que calculam a velocidade das rodas e a inclinação da direção. Há ainda o sensor de guinada, que funciona como uma espécie de pêndulo interno que calcula o movimento lateral do carro. “Quando o motorista vira um pouco o volante, o sistema sabe que, com aquela virada, o carro deveria ter um certo giro para conseguir fazer a curva. Se a pessoa vira o volante e o carro gira mais do que o ESP espera, significa que a pessoa está perdendo o controle”, explica Leimar Mafort, chefe de engenharia da Bosch. Confira abaixo um vídeo que mostra o controle em atuação.
Achei confuso. Pode me dar mais um exemplo?
Vamos supor que seu carro esteja passando por um cruzamento e, subitamente, outro carro aparece em sua trajetória e você precise desviar. Você vira o volante para a esquerda, mas não é suficiente para desviar do obstáculo. Sem o controle de estabilidade, o carro não vai obedecer e há risco de acidente. O ESC impede isso ao frear a roda traseira esquerda e, dessa maneira, alterar a trajetória do veículo. Ou seja, ele muda o caminho do carro freando uma roda de maneira a manter o rumo pretendido. E tudo isso automaticamente! Além disso, o dispositivo pode diminuir a aceleração do motor. Em pisos escorregadios, como uma ladeira em parelelepípedo molhado, o ESC freia uma ou duas rodas para trazer atrito suficiente para que o carro consiga subir.
Eu consigo fazer isso por conta própria, sem a ajuda do ESC?
Se todos nós fossemos pilotos e físicos, seria possível tentar evitar a perda de controle com o contraesterço, que nada mais é do que compensar o movimento do carro virando a direção para o lado contrário da curva. Como é muito difícil conseguir fazer isso sem vacilar, o ESC poupa seu esforço monitorando sinais de seus sensores 25 vezes por segundo para averiguar se a direção seguida pelo motorista corresponde à direção real em que o veículo está se movendo. É muito mais rápido que qualquer ser humano.
Do que é composto o ESC?
O controle de estabilidade é um hardware, ou um módulo eletrônico em que as informações dos sensores de rodas, direção e guinada são processados. Funciona como uma espécie de computador que lê essas informações e entra em ação de acordo com as especificidades do modelo em que está instalado. Sendo assim, o módulo de ESC de um carro grande como um SUV pode ser maior do que o de um carro menor como um hatch. “Vamos supor que seja um carro grande e que tenha um freio maior. Neste caso, pode ser que o hardware precise ser diferenciado por conta disso”, explica Alexandre Pagotto, especialista em marketing da Bosch. De acordo com o especialista, o dispositivo também pode ser maior se o veículo tiver itens como assistente de partida em rampa, uma função executada no mesmo “computador” do ESC.
A lógica é mais ou menos a mesma que vemos em nossos smartphones. Quanto mais aplicativos você tiver, maior terá de ser a memória e o processador do aparelho.
Eu consigo comprar um ESC avulso e instalar no meu carro?
Não, pois o ESC depende de uma série de sensores que podem não estar presentes no seu carro. Ele não é um dispositivo universal que pode ser aplicado em qualquer modelo sem antes ser configurado pela montadora ou pela fornecedora.
É verdade que, se o carro tem ABS, é muito simples colocar ESC?
Não totalmente. Como os freios ABS são obrigatórios no Brasil, todos os carros vendidos aqui têm o sensor de velocidade nas rodas. Isso é meio caminho andado. A questão é que um dos módulos, ou hardwares, é capaz de operar apenas o ABS, e outro tanto o ABS quanto o ESC. Sendo assim, o que marca precisaria fazer para oferecer também o controle de estabilidade seria trocar os módulos e fazer uma recalibragem.
Mas isso não é tudo. “Às vezes, você pode ter que trocar apenas o módulo, às vezes precisa instalar sensores de volante e de guinada. É possível, por exemplo, que o modelo europeu tenha motor a diesel e aqui flex. Aí seria necessário rever a interface”, explica Pagotto. Isso porque, para desacelerar o carro, o ESC tem uma central de comunicação com o motor. Um simples ajuste de suspensão, por exemplo, seria suficiente para que o ESC precisasse passar por uma verificação.
No Brasil, o ESC é um item presente só em carros mais caros?
No mercado nacional, o carro mais barato com controle de estabilidade é o Ford Kahatch na versão 1.0 SEL, que tem preço sugerido de R$ 45.590. Mas ele é um ponto fora da curva. Em geral, esse item começa a aparecer em carros na faixa dos R$ 70 mil, como o utilitário Jeep Renegade, que oferece o ESC como item de série desde a versão de entrada, de R$ 71.900. O Honda Civic, por exemplo, que é o sedã médio mais vendido do país, só oferece o controle eletrônico a partir de sua versão intermediária, a LXR, R$ 79.400.
Existe alguma chance de ele se tornar obrigatório em nosso mercado?
Sim, de acordo com o Denatran (Departamento Nacional de Transito), a normativa para tornar o ESC obrigatório foi proposta para o Contran (Conselho Nacional de Trânsito) e está sendo discutida na Câmara Temática de Assuntos Veiculares. Nela, são feitos debates entre órgãos de governo e entidades da sociedade civil. Como essa câmara é um órgão de assessoria ao Contran, não tem poder de decisão. Por isso, a proposta precisa voltar ao Contran para sua decisão final.
"Nossa expectativa é que [a obrigatoriedade do ESC] seja aprovada esse ano. Aí temos o prazo de adequação da indústria. Embora a área técnica sempre queira adotar logo os requisitos técnicos, não é possível porque não vai ter equipamento suficiente e os projetos não são adequados. Essa questão tem que ser bem equacionada para que se tenha o efeito necessário", disse uma fonte do Denatran em entrevista à Autoesporte.
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