15 de fev. de 2014

Ensaio sobre babacas

Por Caroline Cabral*
Ou, porque me reservo o direito de te achar um.
Basta sair com amigos para passar por um diálogo quase protocolar com a minha mãe. Ela começa perguntando se vou de carro. Resposta afirmativa, dispara um “não vai beber!” – e recebe o inconformado “eu nunca bebo e dirijo!”. Ainda assim, ela emenda um pedido: tome cuidado. Não culpo as mães que não fazem isso, os únicos culpados são os que dirigem alcoolizados. Mas confesso que me agradaria muito saber que mais mães são assim, insistentes.
Por algum tempo achei que era pura implicância e desconfiança dela comigo, muito embora eu nunca tenha dado motivos para que não acreditassem na minha máxima: se estou de carro, simplesmente não bebo. E quem anda comigo sabe; se eu quiser beber, vou e volto de táxi. Nada disso, nadica mesmo, é motivo de orgulho. É apenas a minha obrigação enquanto, como posso dizer… ser humano.
Então, meu medidor de gente babaca funciona assim: se você também é um ser humano com habilitação para dirigir e vai ingerir bebidas alcoólicas, você não pode dirigir. Se você faz vista grossa nesse contrato social fundado no bom senso BÁSICO, você é o que eu chamo de um tremendo babaca. Queridos amigos e amigas que se encaixam nesse perfil: ofendam-se. Se é que já não disparei minhas críticas em um momento oportuno, reforço: vocês são bem babacas por fazerem isso.
“Ah, mas táxi é caro.”
“Pô, nunca aconteceu nada.”
“Relaxa, vou beber só um pouquinho.”
“Se eu ficar mal mesmo, eu não dirijo.”
“Eu sei onde tem blitz.”

Nada disso me interessa, nem justifica a total falta de compaixão e prudência. Mas vou parar de falar de mim, para comentar sobre outras pessoas que também não vão se importar com suas desculpas para se permitir beber e dirigir – elas terão problemas e dores maiores para lidar graças à sua imprudência.
Como você explica para dois meninos, de 14 e 11 anos, que os pais deles nunca mais vão voltar, porque aquele acidente, do qual eles sobreviveram milagrosamente, foi fatal para quem estava no banco da frente? E como você diz para um rapaz que a mãe e a irmã nunca pegaram aquele ônibus para casa – morreram no ponto mesmo, trucidadas por um bêbado no volante? E vai ter estômago para contar a um menino jovem, pobre e trabalhador que aquele braço não vai voltar para seu corpo?
Vou colocar as justificativas mais comuns de quem bebe em perspectiva, só para vocês terem noção. Afinal, acredito que nunca tenham pensado nisso. Não até aqui. Não antes de sair de carro e encher a cara.
Você vai dizer que o táxi sairia mais caro para seu bolso do que o custo daquele braço para o menino? Ou que nunca tinha acontecido nada assim, até aquelas duas estarem bem no ponto de ônibus que a sua bebedeira não permitiu desviar? E se você disser que não tinha para quem dar seu carro, afinal, era quem estava mais sóbrio na turma quando, ops, matou os pais daqueles meninos – isso vai justificar? Não justifica, não ameniza a dor. Não ressuscita ninguém; you ain’t no Jesus.
É claro que não foi acidente”, não existe acidente com bebida + volante. A conta é clara: crimes que envolvem álcool e direção são cometidos por ASSASSINOS. Pesado, né? Mas você assume esse fardo assim que bebe e começa a dirigir; seja uma cerveja ou trinta, você está dentro de uma arma, pronto para tirar a vida de pessoas inocentes, dos seus amigos e talvez a sua.
Nada acontece com a gente, até que acontece. E aí já era, cara, já foi. Com um bom advogado, você vai pagar algumas cestas básicas (porque a lei é falha – e mudá-la é extremamente complexo) e pronto, estará livre para matar de novo. Ou na próxima finalmente vai optar por não beber, para não ter que conviver com o peso de mais uma morte na conta da sua vida? Nesse caso, prevenir é a única opção, não tem como remediar. Eu e você estamos a apenas um shot de um acidente fatal, causado por uma pessoa que, até então, “nunca tinha bebido e dirigido”. E a estreia pode ser a última vez.
Se você refletir sobre isso, e se colocar no lugar das pessoas que morreram, das que ficaram com a dor da perda e das que mataram; vale a pena? Vale arriscar, semana após semana, a vida de tanta gente numa grande e bêbada roleta russa? Não faz sentido ser babaca se você pode ser uma pessoa legal e, acima de tudo, não matar ninguém. Fica aqui um pedido: pensem, reflitam e ajam com a razão. Analisem as chances reais de um acidente pela explosiva junção de álcool e volante. Encontrem meios de sair sem colocar vidas em risco e, por favor, não sejam babacas.
*Caroline Cabral apoia o Movimento Não Foi Acidente e publicou esse artigona FanPage do Movimento.

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