Dr. Dirceu Rodrigues Alves Jr.
Os
engarrafamentos e as lentidões do trânsito nas grandes cidades parecem motivo
para avaliação detalhada por parte da engenharia e medicina de tráfego. A
sensação de perda da liberdade sofrida pelo cidadão é capaz de levar-lhe a
distúrbios de comportamento com consequências imprevisíveis.
Não
temos dados oficiais. Sabemos que o aumento dos congestionamentos e lentidões
do trânsito se intensificaram muito, e logicamente sem ações preventivas, o
número de lesões corporais multiplica-se de maneira assustadora.
Preocupado
com as manifestações psicoemocionais dos indivíduos dentro da sociedade, devido
à perda total da liberdade, resolvi interrogá-los com objetivo de avaliar
sinais e sintomas bem como exame físico.
Observamos
que as descargas adrenérgicas geraram taquicardia, extrassítoles, hipertensão
arterial, epigastralgia, náuseas, sudorese, irritabilidade e agressividade. Os
portadores de doenças cardiocirculatórias e digestivas tinham suas sintomatologias
exacerbadas, os que vinham fazendo psicoterapia estavam descompensados.
Tivemos
oportunidade de levantar alguns incidentes de engarrafamento. Todos envolviam
pessoas tensas, apressadas e ansiosas. Nas entrevistas concluímos tratar-se de
fóbicos do trânsito, do engarrafamento, dos obstáculos do dia a dia das grandes
cidades. Tais fatores psicoemocionais transformados em sinais e sintomas
orgânicos faziam apresentar queixas e consequentemente o uso de alguma droga
caseira para aliviar. Isto gera um custo em dinheiro muito grande caracterizado
não só pelo desperdício de combustível, desgaste de motores, mas também pelo
dano físico e psicoemocional.
Poucos
são aqueles que não se impacientam num engarrafamento. O desconforto de não ter
o seu trânsito livre, de não poder ir e vir, de se sentir acuado no meio de
ferros, gente, gases, vapores, ruído e fumaça, leva o indivíduo a manifestações
ansiosas, passando a ter distúrbios de comportamento tornando-se negligente,
imprudente e agressivo. E se imaginarmos que os engarrafamentos nas grandes
cidades são diários, ocorrendo duas vezes por dia e que nos momentos de pico
envolvem milhares de veículos, como na cidade de São Paulo, acreditamos que ninguém
sairia de casa ou do trabalho para dirigir um veículo.
O
problema é tão grave que a Confederação Nacional da Indústria (CNI) fez um
estudo do trânsito nas grandes cidades, já que tem afetado a produtividade. O
custo benefício do transporte feito desta forma é extremamente negativo. Os
prejuízos não param por ai. Estudo feito pela CETESB estima que para uma queda
de 12,5 km/h
na velocidade média dos automóveis em uma corrente de tráfego, há um aumento
médio de 20% no consumo de combustível, de 25% nas emissões de monóxido de
carbono e de 20% nas de hidrocarbonetos.
Os
números tornam-se mais significativos quando expressos em reais. Deixa-se de
faturar R$ 5,2 bilhões por ano na cidade de São Paulo em decorrência desse
trânsito que não anda. Tal quantia daria para expandir o metrô.
O
medo de ficar acuado, impossibilitado de se movimentar em qualquer direção,
somado as preocupações e horários a serem cumpridos no dia a dia conduz o
indivíduo a perda do humor, irritabilidade, e extrema agressividade. Como se
não bastasse entram outros fatores metereológicos caracterizados pelo calor,
frio, sol, chuva, neblina, etc.. Tudo ocorrerá para o aumento do desgaste
físico e mental, gerando ao longo do tempo sensações desconfortáveis.
Dependendo das características individuais tais fatores serão mais ou menos
evidentes. Não se pode entender como duas pessoas cada uma em seu veículo ao
esbarrarem-se ou tocarem-se sejam capazes de discutirem, ofenderem-se e
partirem para o corpo a corpo buscando destruir o companheiro de infortúnio no
tráfego. Isso é verdadeiro, existe uma doença conhecida como “Transtorno Explosivo
Intermitente” (TEI), conhecido vulgarmente como “Pavio Curto” e ainda
“Sociopatias” e “Transtorno Obsessivo Compulsivo” (TOC), capazes de transformar
o desconforto em agressividade, partindo muitas vezes para o corpo a corpo e a
utilização de armas.
Soluções
inteligentes e imediatas precisam ser tomadas para proteger o cidadão,
reduzindo-se as patologias psiquiátricas, psicológicas e psicossomáticas no
trânsito nos grandes centros, que estimamos corresponder de 13 a 17%.
A
condição insegura apresentada no engarrafamento caracterizada pelos riscos físico,
químico, biológico e ergonômico nos leva a disseminar a idéia de horários de pegada
e saída do trabalho diferenciados, acabando-se com os horários de pico.
A
execução e controle de tal condição insegura cabem ao município, aos órgãos competentes,
mas não podemos deixar de alertar sobre os riscos de condição insegura para a
saúde de todos os habitantes dos grandes centros. Torna-se fundamental e
urgente a necessidade de investimento num sistema adequado de transporte, já
que isto refletirá na produtividade e qualidade de vida de todos nós.
Dr. Dirceu Rodrigues Alves Júnior.
Diretor de Comunicação e do
Departamento de Medicina de Tráfego Ocupacional da ABRAMET
Associação Brasileira de Medicina de Tráfego
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