O trânsito complicado pode provocar dores musculares, estresse, crises respiratórias. Saiba evitar.
Fernanda Aranda, iG São Paulo
A distância de 30 quilômetros foi percorrida em 3horas e 4 minutos.
Durante todo o trajeto, em velocidade tartaruga, o médico ortopedista
Rubens Rodrigues não apenas lamentou o congestionamento que separava a
sua casa do aeroporto como também abria e fechava as mãos, esticava os
braços para cima e girava os pés repetidas vezes.
A “coreografia” dentro do veículo é só uma das dicas para evitar os
males dos engarrafamentos, que vão além do estresse. Nos últimos 10
anos, segundo os dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran)
surgiram, em média, 165 mil novos carros. O crescimento da frota na
década foi de 103%, bem maior do que o aumento populacional no mesmo
período, de 17,1% (mostram os dados do IBGE).
O descompasso entre veículos, pessoas e espaço físico fez com que o
problema do trânsito parado deixasse de ser um privilégio só de São
Paulo e fosse exportado para as principais capitais do País. Prova disso
é uma pesquisa encomendada pelo Ministério do Meio Ambiente que
detectou poluição veicular acima dos padrões seguros ditados pela
Organização Mundial de Saúde não apenas na atmosfera paulista, como
também em Recife, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Curitiba.
O Delas conversou com especialistas para saber como amenizar os principais problemas de saúde trazidos pelo tráfego congestionado.
Dores nas costas
Foto: Getty Images
Pela janela do carro você olha, com piedade, as pessoas que se apertam
no ônibus, espremidas e em pé. Antes de ter pena, o médico do Instituto
de Ortopedia de São Paulo (IOT) faz um alerta.
“Para a coluna, não há mal pior do que o aparente conforto dos
automóveis. Ficar sentado por mais de uma hora é o suficiente para
desencadear dores lombares e cervicais”, afirma Rubens Rodrigues.
Por isso, durante o trajeto, ele orienta a esticar os braços, como se
estivesse se espreguiçando. “Um único percurso por trânsito
congestionado é suficiente para provocar um microtrauma nas costas. O
acúmulo pode desencadear um problema crônico. Por isso, além de mexer os
braços, é importante fazer alongamento ao sair do carro”, orienta o
especialista.
Problemas de circulação
Outro impacto imediato é na saúde das pernas, pés e aparelho
circulatório. A ausência de movimentos, faz com que o sangue tenha mais
dificuldade para percorrer o organismo. As varizes não são as únicas
sequelas. Embolias, em casos mais severos, também podem ser um efeito
colateral.
O presidente do Sindicato de Taxistas de Porto Alegre, Luiz Nozari,
diz que a situação é tão preocupante que na capital gaúcha a entidade já
fez parceria com a associação de cirurgiões vasculares para
conscientizar sobre o problema.
“Não há nada mais grave do que sair do banco do carro e ir direto
para o sofá. Sempre preconizamos o exercício físico após o trânsito e,
como cada pessoa tem um limite, a sugestão mais democrática é a
caminhada”, sugere Nozari.
Comparar a rotina de um taxista, que fica no trânsito uma média de 12
a 14 horas por dia, com a de uma pessoa que não trabalha na praça não é
um exagero. Isso porque, grande parte dos trabalhadores do País, antes
de pegar a maratona engarrafada, fica horas sentado em frente ao
computador, em um escritório, na sala de aula ou em reunião. Por isso,
além de movimentar as pernas e caminhar após o trânsito, uma boa dica é
beber muito líquido durante o dia, receita básica para quem quer
amenizar os problemas circulatórios.
Dores de cabeça e estresse
Em um congestionamento, não faltam gatilhos para a dor de cabeça,
explica Carlos Bordini, presidente da Sociedade Brasileira de Cefaléia.
“Ansiedade por não querer chegar atrasado ao compromisso, raiva por
ter de pegar trânsito mais uma vez, poluição e barulho potencializam as
crises de enxaqueca e de dores de cabeça”, explica o neurologista.
Segundo o médico, estes fatores não causam a dor de cabeça, mas
evidenciam que a pessoa é suscetível à doença. “Neste caso, a ocasião
não faz o ladrão mas o revela”, compara. “Como hoje os congestionamentos
tornaram-se problemas inevitáveis é importante que a pessoa tenha
mecanismos de controle de estresse. Cada um tem o seu, mas existem os
universais como ioga e meditação”, diz.
Em situações estressantes, afirmam os especialistas, a respiração
também é prejudicada, o que influencia a circulação e as dores cabeça.
Inspirar e expirar profundamente ajuda a melhorar o quadro. O taxista
Luiz Nozari sugere ainda aproveitar a paisagem, que às vezes fica
escondida no congestionamento.
Poluição e problemas respiratórios
Os escapamentos dos automóveis estão a todo vapor do lado de fora. A
sensação é de que dentro do carro estaremos mais protegidos dos gases
tóxicos. Engano. O Laboratório de Poluição da USP já fez medições com um
aparelho especializado, chamado monoxímetro, e constatou que no
interior dos veículos a poluição chega a ser 30% maior do que às margens
das grandes avenidas de São Paulo.
Fechar os vidros e ligar o ar-condicionado nem sempre é uma boa
opção, já que a implicação imediata dos gases em excesso é a debilitação
do aparelho respiratório, também prejudicado pela atmosfera resfriada.
“A alta concentração dos poluentes nos centros urbanos associada à baixa
umidade leva a irritação e inflamação das mucosas respiratórias e as
pessoas já portadoras de doenças respiratórias crônicas (asma,
bronquite, rinite) têm maior tendência a apresentar crises”, explica o
pneumologista Mauro Gomes, membro da comissão de Infecções Respiratórias
da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia em material divulgado
pela entidade.
A solução neste caso não é simples. Os especialistas orientam que a
melhor maneira é optar por outras formas de locomoção antes de priorizar
o transporte individual. Ainda que a falta de ônibus, metrô e vans
públicas de qualidade pareça incentivar o uso dos automóveis, o excesso
de carros que prejudica os pulmões provoca um ciclo de doenças que
começam pelo trato respiratório, cardiovascular e até depressivo.
Pesquisa do Instituto do Coração (Incor) já mostrou inclusive que a
poluição veicular potencializa infartos, acidentes vasculares cerebrais e
diabetes.
Fonte:
http://delas.ig.com.br/saudedamulher/congestionamento+de+problemas+de+saude/n1237773335729.html - Acesso em 07/06/2012
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