25 de jan. de 2012

O trânsito exige atenção quase exclusiva

Executar multitarefas parece sem volta, mas o resultado é que a distração sai cara no trânsito
 
Uma notícia publicada este mês pela France Press percorreu os principais sites noticiosos do Brasil pelo alerta: triplicou o número de acidentes graves com pedestres que usam fones de ouvido nos Estados Unidos. Em 2004/5 foram 16 casos, já em 2010/11 foram 47. De 116 colisões analisadas ao longo de 90 meses, em 29% dos casos as testemunhas afirmaram que buzinas ou sirenes de alarmes (trem) foram acionadas antes do pedestre ser atingido.

O presidente da Abraspe - Associação Brasileira de Pedestres, Eduardo Daros, aponta que a capacidade do ser humano de executar várias tarefas ao mesmo tempo é muito limitada. “Uma delas sempre fica sacrificada. O trânsito é cheio de surpresas porque os outros também estão fazendo outras coisas ao mesmo tempo, então, quando algo acontece, você tem que estar totalmente focado”, alerta. 

Quanto à música, ele diz que é preciso analisar o volume e o tipo de música e se está perturbando sua atenção. “Andar na rua, principalmente em um país como o nosso, com calçadas cheias de buraco, requer muita atenção. Nós brasileiros temos dificuldade de concentração. Uma pessoa que põe o iPod ligado direto no ouvido está impossibilitada de usar um reforço que a natureza nos deu pra evitar acidentes: o ouvido, que muitas vezes é mais importante que a própria visão! O ângulo visual é limitado, já o ouvido capta 360 graus”, diz Daros. 

Ele alerta ainda que esse problema vai se tornar mais sério, porque o ser humano está cada vez mais executando multitarefas, o que resulta em estresse e acidente. “Deveria haver campanha que clamasse ‘vamos nos focar!’. Se você está dirigindo, então dirija, se está caminhando, então caminhe. A distração pra mim deve ser um sinal vermelho, um reflexo de ‘pare’. Está andando e uma vitrine chamou a atenção? Pare para olhar, foque naquilo e depois continue”, sugere. 

Outro aspecto apontado pela gerente de comunicação da Perkons, empresa que desenvolve soluções para segurança e gerenciamento de tráfego, Maria Amélia Franco, é a relação do trânsito no cotidiano das pessoas. “O ato de transitar é feito desde que somos pequenos, de forma natural, quase automática, como respirar ou comer. Portanto, avaliar o espaço, os riscos e interagir com o sistema trânsito acaba sendo uma tarefa mais difícil, mas necessária para evitar acidentes”, explica a especialista em gestão de trânsito e mobilidade urbana pela PUC-PR. 

Distrações variam conforme idade
    
As crianças, por seu desenvolvimento psicomotor, estão ainda mais vulneráveis à distração. “A criança não tem condições de julgar o trânsito, qualquer coisinha distrai e é natural ela ter a prepotência de achar que alguém está cuidando dela. Por isso recomendamos que as habilidades sejam desenvolvidas com o acompanhamento do adulto, que deve ir desenvolvendo uma cultura do autocuidado e da prevenção dos acidentes e só a partir dos dez anos dar a autonomia da criança andar sozinha”, diz a Coordenadora Nacional da Ong Criança Segura, Alessandra Françóia. 

O presidente da Abraspe, Eduardo Daros, também revela diferenças na vida adulta. “Quem é mais idoso já tende a andar com mais cuidado, porque sabe que seus reflexos estão um pouco comprometidos. Já o jovem assume muito risco, acima de sua capacidade de lidar com as situações. Se não reconhecermos nossos limites pelo desejo de fazer tudo ao mesmo tempo, estamos fazendo tudo mal feito e nossa cultura é permissiva neste ponto. Isso faz parte da educação desde pequenininho”, lembra.

Dados
    
Uma pesquisa encomendada pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (Sbot) ouviu 1.020 pessoas em junho de 2011 nas capitais Rio de Janeiro e São Paulo, das quais 54% dirigem. Sobre as distrações mais cometidas pelos pedestres, 77% dos entrevistados apontaram atravessar fora do sinal, 74% disseram cruzar a pista fora da faixa e 66% dos entrevistados citaram não olhar para os dois lados da rua. 
    
Quando perguntados quais as principais recomendações para evitar riscos por distrações no trânsito, 79% apontou não falar ao celular ou não receber ligações ou manter o celular desligado. Depois, as principais sugestões foram não ingerir bebida alcoólica (23%), evitar conversas (23%) e maior atenção às sinalizações ou respeitar os sinais/faixas (19%).
    
Para a Sbot, o pedestre se expõe a riscos na rua muito por falta de orientação e ausência do poder público, pois a pesquisa mostrou que mais de 60% quando procura sinalização e locais próprios para atravessar a rua, não encontra.

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