Por Dirceu Rodrigues Alves.
Combatemos a desatenção na direção veicular. Não só as desatenções
produzidas pela tecnologia introduzida nos veículos que são responsáveis
por acidentes. Torna-se impossível imaginarmos o motorista de um
coletivo tendo sua atenção voltada para cobrar passagem. Receber
dinheiro, notas ou moedas, contá-las, dar troco, preocupado para não
errar, observar a subida e descida de passageiros são coisas
incompatíveis que levam o homem a tensão, estresse e acidente. Buscamos
melhorar a qualidade de vida no trabalho do motorista que desenvolve
atividade no transporte coletivo, onde múltiplos fatores de risco
agridem seu organismo e ainda ocorrem reações orgânicas repercutindo
sobre o trabalho desenvolvido. Não podemos entender e tão pouco aceitar
que esse mesmo motorista possa desenvolver dupla função
(motorista/cobrador).
A vigília, atenção, concentração, raciocínio, percepção, respostas
motoras rápidas, sensibilidade tátil, visão e audição são elementos
essenciais para aquele que transita na direção veicular. Despertar
atenção desse elemento com uso de celular, com movimentos bruscos ao
volante, fazer tocar um CD, fletir o corpo para mexer em algo no painel
são riscos que levam ao acidente.
Recentemente, fui surpreendido por uma atividade incompatível com a
direção veicular. Ao adentrar o ônibus em plena Copacabana no Rio de
Janeiro pela porta da frente, fui interceptado pelo motorista que me
cobrava à passagem. Rapidamente passou-me o troco, atravessei a catraca e
sentei passando a observar detalhes daquele trabalho. Era um para e
anda, o recebe e dá troco e a ansiedade para movimentar o coletivo
porque outros se encontravam em sua traseira. Mas não é só na área
urbana, acontece nas rodovias.
Não posso entender, enquanto todos os órgãos responsáveis pela
segurança no trânsito e pelo desenvolvimento desse trabalho na direção
veicular preocupam-se com a atenção, concentração, redução do estresse,
melhor qualidade de vida no trabalho, outros, sem identificar a
sobrecarga e a penosidade do trabalho, o submetem a situação de alto
risco.
Imagine que estamos aumentando em muito a responsabilidade com a
manipulação de dinheiro, troco, desviando atenção e concentração do
indivíduo. Temos convicção de que estamos expondo a vida desse homem,
dos usuários e pedestres a riscos iminentes.
O evoluir do trabalho intranquilo, preocupado, sujeito a assaltos,
agressões, acidentes, danos a terceiros, são contrários à qualidade de
vida nessa atividade. O anda e para do trânsito, intervalos curtos entre
as paradas de ônibus, o risco físico, químico, ergonômico, biológico
que repercutem sobre esse organismo, tudo concorre para um trabalho de
sacrifício, de intolerância, de estresse e fadiga intensa. Não podemos
esquecer que além de tudo isso as jornadas de trabalho são longas,
ultrapassando o que determina a legislação.
A economia do empresário reduzindo o número de funcionários joga no
pobre motorista uma carga de trabalho, responsabilidade e
susceptibilidade para desenvolver sinais, sintomas e doenças. Em curto
espaço de tempo os mais resistentes estarão buscando os ambulatórios
médicos com queixas as mais variadas. Certamente serão detectados
distúrbios físicos, psicológicos, sociais e em consequência a
necessidade de tratamento específico, bem como a necessidade de
afastamento do trabalho. Aumenta o absenteísmo, surgem doenças
ocupacionais.
As entidades responsáveis pela orientação, fiscalização e até punição
das empresas responsáveis pelo transporte coletivo, precisam entender
que o trabalho de motorista é um trabalho penoso, sofrido, caracterizado
pelos riscos que a função é submetida como a exposição ao ruído,
vibração, variações térmicas, gases, vapores, fuligem, agentes
microbianos, postura, trabalho repetitivo, estresse e tudo mais que
envolve a relação com o público onde cada um reage de maneira pessoal.
Entender isso é entender que precisamos melhorar a qualidade de vida
no trabalho de uma classe sacrificada. Desviar a atenção, concentração
para outra atividade de responsabilidade, que aumenta a tensão,
estresse, desgaste físico, concorre para o atropelamento de um pedestre,
colisão e outros. Há necessidade de ações junto aos órgãos
governamentais, empresas, impedindo que essa absurda dupla atividade
seja mantida. Além do sacrifício e sobrecarga a que é submetido o
profissional do volante, tudo concorre para risco maior com prejuízo
para o estado, empresário, motorista e sociedade como um todo.
Estamos em plena década de segurança viária, precisamos agir sobre
todos os fatores que direta ou indiretamente venham aumentar nossas
estatísticas de mortes e sequelados no nosso trânsito.
Fonte: http://portaldotransito.com.br/opiniao/transito-e-a-sociedade/dupla-funcao-motoristacobrador/ - Acesso em 20/05/2016.
Concordo Plenamente com a matéria sobre dupla função de motorista/cobrador.
ResponderExcluirA ganância dos empresários de concessionárias de transporte público de passageiros e com o apoio dos órgãos fiscalizadores, um absurdo, caso de ministério público. Paulo