Percebo que há muito faz-de-conta nas ações
de educação para o trânsito desenvolvidas, muitas vezes, parece que o objetivo
não é provocar a mudança de atitudes das pessoas e a redução da violência
viária, mas sim mostrar à sociedade que está sendo feito alguma coisa. Há muita
preocupação com a quantidade, com a divulgação dos números de habitantes ou de
alunos atingidos nas campanhas e programas educativos para o trânsito. Será que
todas as pessoas que participaram das ações educativas foram atingidas? Será
que as pessoas “atingidas” estão educadas para o trânsito? Apenas quantidade
não traz os resultados necessários. Precisamos de qualidade.
A responsabilidade pelo trânsito caótico que temos hoje é do ser humano, principalmente daquele que é negligente e imprudente no trânsito. Porém a responsabilidade é também daquele ser humano que não fiscaliza os motoristas, daquele que não sinaliza as rodovias corretamente, daquele que quer apenas vender os automóveis sem preocupação com a segurança, daquele que vende bebida alcoólica e permite que seu cliente vá embora do bar dirigindo após beber álcool, daquele que não orienta (pais, professores, agentes de trânsito, instrutores de CFC, entre outros) quando poderia e deveria fazê-lo. Por outro lado, quem tem grande responsabilidade sobre o trânsito caótico é também o ser humano que está no governo e não prioriza a segurança e a fluidez no trânsito em suas políticas públicas, que não fiscaliza os estados e os municípios sobre o cumprimento das leis de trânsito dirigida a essas instituições.
Penso que as pessoas não mudam suas atitudes no trânsito por vários motivos: um deles é por que não foram sensibilizadas, nem motivadas a refletir sobre o risco que correm sendo imprudentes nas vias e não consideram a mudança de atitudes significativa. Outro motivo é o excesso de confiança, muitos motoristas pensam que nunca vão se envolver em uma violência de trânsito, porque se consideram “ótimos motoristas” ou porque acreditam que “Ninguém morre antes da hora”. Há também, a questão cultural, cometer infração de trânsito faz parte do folclore, é uma tradição que passa de pai para filho, nos anos 60, Roberto Carlos já dizia em suas canções: “vinha voando com meu carro”, “parei na contramão”. Hoje continuamos tendo influências de atitudes incoerentes no trânsito, vemos as celebridades cometendo infrações, nas telenovelas e em outros programas de entretenimento, por exemplo. Há ainda outros motivos como: a impunidade, a falta de conhecimento, a inversão de valores, entre outros. É importante a realização de uma pesquisa com os infratores, a fim de verificar o que está por trás da infração.
A colaboração dos professores à educação
para o trânsito é imprescindível. Eles estão boa parte do tempo com as crianças
e com os adolescentes e podem realizar um bom trabalho e com continuidade. É
importante que a educação para o trânsito seja permanente, não basta dar aulas
ou palestras esporádicas de boas condutas no trânsito. Por melhor que seja a
atividade, mesmo que tenhamos conseguido um bom índice de aprendizagem, se não falarmos mais no assunto,
surgirão outros interesses aos participantes e os conhecimentos adquiridos
naquela aula ou palestra poderão desaparecer. Por isso é importante, capacitar
os professores, sensibilizando-os para a necessidade de trabalhar o tema
trânsito com as crianças e os adolescentes e demonstrando as metodologias que
podem ser usadas na educação para o trânsito.
As ações para promover a mudança de
atitudes no trânsito devem estar focadas nas causas da violência viária, é
importante pesquisar a raiz do problema e combate-lo a partir deste ponto. Se a
maior causa de violência no trânsito é o uso do celular ao volante, é preciso
orientar as pessoas sobre o risco dessa atitude. Há, no entanto, muitas pessoas
que conhecem esses riscos e mesmo assim falam ao celular quando estão
dirigindo. Por isso é importante pesquisar também as causas dessa atitude de
risco no trânsito. Se o problema é a inversão de valores e a falta de
sensibilidade, por exemplo, é necessário trabalhar a educação de valores e a
educação sensível.
Aperfeiçoar a capacidade de atenção das
pessoas representa uma grande contribuição para a segurança no trânsito, já que
uma das principais causas da violência viária é a falta de atenção. Um segundo
de desatenção no trânsito, de distração no volante ou ao transitar a pé, pode
ser fatal. A prática da atenção exige escolhas as quais requerem que deixemos,
muitas vezes, algo de lado. O motorista, enquanto dirige, por exemplo, deveria deixar de atender ao celular, a uma
ligação de sua companheira - uma situação que poderia lhe proporcionar uma
conversa prazerosa, para não prejudicar sua atenção no trânsito. A prática da
atenção, muitas vezes, exige sacrifício. Mas, em prol da vida, qualquer
sacrifício vale a pena!
É preciso sensibilizar para formar um homem
ético, um ser humano que tenha autonomia e saiba fazer escolhas, que faça as
escolhas certas, que dê preferência à segurança, à saúde e à vida.
Ver o mundo apenas de modo prático, além da
insensibilidade, estimula a falta de honestidade e a falta de solidariedade -
valores indispensáveis no ambiente do trânsito. Olhar para o outro procurando
apenas obter vantagens, preocupar-se só com as questões sociais e práticas,
torna os cidadãos mais individualistas e incapazes de conviver em um espaço
compartilhado, como o das vias. Além disso, essa praticidade
incentiva a falta de harmonia, de tranquilidade e de segurança no trânsito.
Por outro lado, olhar o mundo e dar oportunidade para o sentimento fluir, permitindo que os sentidos atuem, poderá proporcionar profundas emoções, importantes reflexões e grandes transformações. Por isso, a importância de uma educação para o trânsito que comova o público alvo e que provoque a reflexão sobre as consequências das atitudes nas vias.
Por outro lado, olhar o mundo e dar oportunidade para o sentimento fluir, permitindo que os sentidos atuem, poderá proporcionar profundas emoções, importantes reflexões e grandes transformações. Por isso, a importância de uma educação para o trânsito que comova o público alvo e que provoque a reflexão sobre as consequências das atitudes nas vias.
No trânsito, há muitas pessoas com olhos perfeitos,
porém “cegas”, incapazes de ver as sinalizações presentes nas ruas, necessárias
para a fluidez e a segurança viária; incapazes de perceber que, no interior dos
veículos, há seres humanos com direitos iguais aos delas; incapazes de enxergar
que o seu espaço termina onde começa o do outro. Há indivíduos que não percebem
os riscos de uma imprudência no trânsito, como falar no
celular ao dirigir, fazer uma ultrapassagem perigosa, dirigir em alta
velocidade, conduzir veículo automotor após ingerir bebida alcoólica, dentre
outros. Existem muitas pessoas que olham a violência viária, o sofrimento de um
pai que perdeu o filho, a criança que chora a falta da mãe, o jovem numa cadeira de rodas, mas não enxergam, não fazem o movimento interno para buscar
informações e significações, e continuam sendo infratores de trânsito.
Precisamos de educação sensível para o trânsito!!
Formar
um condutor não é apenas ensiná-lo a dirigir veículo automotor, é também
prepará-lo para ser um motorista responsável e ético. Essa formação não é
possível apenas com as aulas no Centro de Formação de Condutores, ela deve
iniciar durante a infância, na família e na escola. O ideal é que o jovem, ao
chegar no CFC, já tenha a personalidade formada, já saiba que valores farão
diferença em sua vida, é importante que o aprendiz de motorista tenha clareza
sobre a importância e a responsabilidade do ofício de dirigir.
Muitas pessoas estão tão acostumadas à
insensibilidade no trânsito que, quando percebem que alguém está olhando para
elas, nesse ambiente, ficam incomodadas e procuram afastar-se dessa situação. O
que faz as pessoas agirem dessa maneira, sem olhar, sem sentir, sem perceber e
sem refletir sobre o que está em sua volta?
A violência viária acontece em todo lugar,
não há faixa etária, nem classes sociais e culturais eleitas para serem vítimas
do trânsito, é como se a sociedade estivesse sendo contagiada por uma epidemia.
Qualquer um de nós pode ser atingido por esse mal, a qualquer momento.
As propagandas de cerveja e as músicas influenciam
o uso de bebidas alcoólicas nas festas, bares e baladas. Muitas pessoas que
estão nesses ambientes dirigem após beber. Provavelmente, se os conteúdos das
propagandas e das músicas que incentivam o uso de bebidas alcoólicas forem avaliados e censurados, tenhamos
mais êxito nas campanhas de educação para o trânsito e, consequentemente, a
mudança de comportamento das pessoas que bebem e dirigem.
Se as pessoas forem capazes de se modificar
por meio da sensibilidade, a sociedade consequentemente será modificada. Desta
forma, a educação para o trânsito, a partir de suas campanhas educativas,
programas e demais atividades, tem a oportunidade de sensibilizar a sociedade
e, por meio dessa percepção sensível, possibilitar a reflexão e a diminuição
dos índices de violência viária.
Educar para o trânsito é um desafio. Apesar
do alto índice de violência viária, parece que há pouca percepção sensível por
parte das pessoas para esse problema social. As ações realizadas estão muito
aquém do que é necessário e não estão provocando as mudanças necessárias para
transformar essa realidade. Percebemos isso ao observar o comportamento
individualista, apressado e agressivo das pessoas nas vias e na grande quantidade de notícias sobre violência no trânsito
publicada nos jornais. Perante essa situação, faz-se necessária uma análise das
ações educativas de trânsito a fim de avaliar como está a percepção e a
aceitação dessas atividades. Além disso, há a necessidade de buscar estratégias
que tragam os resultados que tanto precisamos para a segurança e a
tranquilidade viária.
O desafio da educação para o trânsito é
convencer a sociedade de que a maior prejudicada pelas infrações de trânsito é
ela. O desafio é convencer o povo a fiscalizar e denunciar o infrator e a
exigir segurança viária. Isto é possível, já acontece em outros países, já
acontece no Brasil, com os fumantes, se tiver alguém fumando em ambiente
fechado, as pessoas denunciam. Vamos denunciar também o infrator e não
protegê-lo, avisando onde há blitz!
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