Dr. Dirceu Rodrigues Alves Júnior *
Enquanto
na atividade aérea busca-se em primeiro lugar a causa do acidente para investir
em prevenção, no transporte com automotores buscamos somente culpados que
jamais são punidos.
O
ato pericial que é realizado no local do acidente no transporte urbano e
rodoviário é feito pelo Instituto de Criminalística e gera um laudo policial.
Interessa
a polícia indiciar culpados. Nessa avaliação é esquecido o principal elemento
gerador do acidente, a causa. Tal perícia deveria ser complementada por uma
equipe de engenharia de segurança e medicina de tráfego que deveria estar
integrada a Agências de Transporte, Companhia de Engenharia de Tráfego, Polícia Rodoviária e até Empresas.
O
objetivo maior desta equipe seria a de levantar atos e condições inseguras que
concorreram para o acidente, avaliando o homem, a máquina e o meio.
Aliás,
vale lembrar que o acidente não é na realidade um acidente, mas uma ocorrência
onde existe o concurso do homem quer na construção do veículo, na sua
manutenção, nos cuidados ao dirigi-lo, na construção das vias e sua
manutenção,
na responsabilidade por todos os atos, na sinalização e na obediência da mesma
e no desrespeito à vida.
O homem é o único causador de tais ocorrências.
Portanto,
em todos eles conhecemos o culpado. Precisamos identificá-lo dentro dessa
cadeia.
Ninguém
se acidenta, fica inválido com sequelas porque Deus queria. Não existe destino
nesse caso. Tudo é traçado pelo homem. Nós compomos a vida e a dirigimos. Tudo
que possa acontecer no trânsito tem a mão do homem.
O
acidente não é um destino traçado, se foi a óbito não foi porque estava na sua
hora e que Deus assim quis. O óbito, as vítimas, os sequelados não ocorreram
por outro motivo se não causados pelo homem. Não existe fatalidade, se existe,
o culpado é o homem.
Essas
ocorrências surgem pela imprudência, negligência, imperícia em cada segmento do
trabalho, até o deslocamento do veículo e chegar ao acidente. Excesso de
velocidade, desrespeito a sinalização, álcool, drogas, fadiga, sono e
desatenções provocadas pela tecnologia introduzida no veículo são os principais
mecanismo desencadeadores de tais ocorrências. Veículos com excesso de peso, cargas
mal distribuídas e fixadas, manutenção precária e uma série de outros
desencadeantes. Cerca de 93% decorrem por falha do motorista. Mas os outros 7%
têm outros personagens envolvidos desenvolvendo suas atividades à distância do
local do sinistro.
Estudar
o local do acidente, o motorista, as vítimas com as lesões apresentadas não
tenho dúvida que iria produzir um laudo com complementos importantes com
relação à atenção a pontos críticos a serem trabalhados e logicamente redução
desses acidentes.
Esta
mesma equipe seria responsável por ações preventivas com relação à saúde, formação
do motorista bem como treinamento e educação continuada. Criar-se-ia uma
cultura diferenciada para aqueles que julgam o veículo sobre rodas como um
brinquedo, como uma máquina de produzir prazer e poder, o que não é verdade.
Trata-se de uma máquina de extrema periculosidade e com grande repercussão na
saúde do homem e do meio ambiente.
A cultura que engloba o veículo deve ser para mobilidade
e não como propagam as montadoras como sendo o luxo, velocidade, ostentação,
conquista e poder.
A
ABRAMET (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego) caminha na direção da
vida e parece que os motoristas, motociclistas, gestores do transporte, órgãos
governamentais e demais componentes caminham na contramão dessa vida.
Transitar
é verbo intransitivo, mas precisamos transitar bem, conhecendo fatores de
risco, condições inseguras e atos inseguros.
O
ato de dirigir é tido como corriqueiro, mas depende de funções cognitivas,
motora e sensório perceptiva. Não é tão simples assim. Dirigir é tarefa
complexa, exige uma perfeita adequação de atividade física e mental, percepção,
reflexos, cautela e respeito ao perigo que a máquina, a via, o pedestre podem
oferecer. A educação, a gentileza são qualidades que não vemos no transporte e
que são de suma importância para execução de tarefa de tão alto risco. No
entanto, nem todas as pessoas coordenam essa adequação.
A
causa do acidente nos leva a medidas preventivas atuando no local, na máquina,
no homem e só dessa forma reduzindo óbitos e vítimas.
Dr. Dirceu Rodrigues
Alves Júnior
Diretor de Comunicação e do
Departamento de Medicina de Tráfego Ocupacional da ABRAMET (Associação
Brasileira de Medicina de Tráfego)
Muito interessante a observação. Vejo curvas que de tanto acidentes têm apelidos - "Curva tombadeira; curva do sabão; curva do caminhão..." Desse modo a engenharia devia atuar a fim de modificar o traçado ou reforçar a sinalização. Parece que tem gente interessadas nesses locais de acidente, pois há anos que eles existem, por isso os apelidos...
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