28 de jan. de 2013

O que mais interessa num acidente? A causa ou só o culpado?

      
 Dr. Dirceu Rodrigues Alves Júnior *

Enquanto na atividade aérea busca-se em primeiro lugar a causa do acidente para investir em prevenção, no transporte com automotores buscamos somente culpados que jamais são punidos.

O ato pericial que é realizado no local do acidente no transporte urbano e rodoviário é feito pelo Instituto de Criminalística e gera um laudo policial.

Interessa a polícia indiciar culpados. Nessa avaliação é esquecido o principal elemento gerador do acidente, a causa. Tal perícia deveria ser complementada por uma equipe de engenharia de segurança e medicina de tráfego que deveria estar integrada a Agências de Transporte, Companhia de Engenharia de Tráfego,  Polícia Rodoviária e até  Empresas.
    
O objetivo maior desta equipe seria a de levantar atos e condições inseguras que concorreram para o acidente, avaliando o homem, a máquina e o meio.
Aliás, vale lembrar que o acidente não é na realidade um acidente, mas uma ocorrência onde existe o concurso do homem quer na construção do veículo, na sua manutenção, nos cuidados ao dirigi-lo, na construção das vias e sua
manutenção, na responsabilidade por todos os atos, na sinalização e na obediência da mesma e no desrespeito à vida.

               
                      O homem é o único causador de tais ocorrências.


Portanto, em todos eles conhecemos o culpado. Precisamos identificá-lo dentro dessa cadeia.
 
Ninguém se acidenta, fica inválido com sequelas porque Deus queria. Não existe destino nesse caso. Tudo é traçado pelo homem. Nós compomos a vida e a dirigimos. Tudo que possa acontecer no trânsito tem a mão do homem.
  
O acidente não é um destino traçado, se foi a óbito não foi porque estava na sua hora e que Deus assim quis. O óbito, as vítimas, os sequelados não ocorreram por outro motivo se não causados pelo homem. Não existe fatalidade, se existe, o culpado é o homem.
  
Essas ocorrências surgem pela imprudência, negligência, imperícia em cada segmento do trabalho, até o deslocamento do veículo e chegar ao acidente. Excesso de velocidade, desrespeito a sinalização, álcool, drogas, fadiga, sono e desatenções provocadas pela tecnologia introduzida no veículo são os principais mecanismo desencadeadores de tais ocorrências. Veículos com excesso de peso, cargas mal distribuídas e fixadas, manutenção precária e uma série de outros desencadeantes. Cerca de 93% decorrem por falha do motorista. Mas os outros 7% têm outros personagens envolvidos desenvolvendo suas atividades à distância do local do sinistro.
     
Estudar o local do acidente, o motorista, as vítimas com as lesões apresentadas não tenho dúvida que iria produzir um laudo com complementos importantes com relação à atenção a pontos críticos a serem trabalhados e logicamente redução desses acidentes.

Esta mesma equipe seria responsável por ações preventivas com relação à saúde, formação do motorista bem como treinamento e educação continuada. Criar-se-ia uma cultura diferenciada para aqueles que julgam o veículo sobre rodas como um brinquedo, como uma máquina de produzir prazer e poder, o que não é verdade. Trata-se de uma máquina de extrema periculosidade e com grande repercussão na saúde do homem e do meio ambiente.
  
A cultura que engloba o veículo deve ser para mobilidade e não como propagam as montadoras como sendo o luxo, velocidade, ostentação, conquista e poder.
     
A ABRAMET (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego) caminha na direção da vida e parece que os motoristas, motociclistas, gestores do transporte, órgãos governamentais e demais componentes caminham na contramão dessa vida.

Transitar é verbo intransitivo, mas precisamos transitar bem, conhecendo fatores de risco, condições inseguras e atos inseguros.
    
O ato de dirigir é tido como corriqueiro, mas depende de funções cognitivas, motora e sensório perceptiva. Não é tão simples assim. Dirigir é tarefa complexa, exige uma perfeita adequação de atividade física e mental, percepção, reflexos, cautela e respeito ao perigo que a máquina, a via, o pedestre podem oferecer. A educação, a gentileza são qualidades que não vemos no transporte e que são de suma importância para execução de tarefa de tão alto risco. No entanto, nem todas as pessoas coordenam essa adequação.

A causa do acidente nos leva a medidas preventivas atuando no local, na máquina, no homem e só dessa forma reduzindo óbitos e vítimas.

Dr. Dirceu Rodrigues Alves Júnior
Diretor de Comunicação e do Departamento de Medicina de Tráfego Ocupacional da ABRAMET (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego)

Um comentário:

  1. Muito interessante a observação. Vejo curvas que de tanto acidentes têm apelidos - "Curva tombadeira; curva do sabão; curva do caminhão..." Desse modo a engenharia devia atuar a fim de modificar o traçado ou reforçar a sinalização. Parece que tem gente interessadas nesses locais de acidente, pois há anos que eles existem, por isso os apelidos...

    ResponderExcluir