Um país com a reputação de ter motoristas mal-educados se tornou um dos modelos do Rio Grande do Sul no combate ao massacre nas estradas, responsável por tirar a vida de 2 mil gaúchos por ano.
Em viagem a Paris para verificar como a França está enfrentando as tragédias do trânsito, Zero Hora percebeu que os franceses, com quem o Departamento Estadual de Trânsito (Detran) assinou acordo de cooperação, ignoram quando o pedestre põe o pé na faixa, andam com a motocicleta na contramão da pista do ônibus e desprezam o conselho de evitar o volante depois do tradicional vinho no jantar.
— Nós guiamos o carro da mesma maneira que os brasileiros — atesta Joël Valmain, conselheiro técnico para questões internacionais do Delegado Interministerial pela Segurança Viária da França, que se espantou com o exagero na velocidade dos motoristas em visita à Capital neste ano.
Com essa situação adversa — ZH flagrou inclusive pessoas saindo de bares e restaurantes e assumindo o volante depois de consumir bebida alcoólica —, era de se esperar que a tragédia nas estradas se ampliasse a cada ano. Mas a França surpreende.
— Nós guiamos o carro da mesma maneira que os brasileiros — atesta Joël Valmain, conselheiro técnico para questões internacionais do Delegado Interministerial pela Segurança Viária da França, que se espantou com o exagero na velocidade dos motoristas em visita à Capital neste ano.
Com essa situação adversa — ZH flagrou inclusive pessoas saindo de bares e restaurantes e assumindo o volante depois de consumir bebida alcoólica —, era de se esperar que a tragédia nas estradas se ampliasse a cada ano. Mas a França surpreende.
Mesmo com o crescimento da população e da frota, o país derrubou em 75% o número de mortes em quatro décadas. A taxa atual atinge seis mortes a cada 100 mil habitantes, três vezes menor do que o índice gaúcho (um dos mais baixos do país).
O segredo é adotar uma fórmula sem segredos e sem mágicas. Fez o óbvio: em uma frente investiu em prevenção e, em outra, ampliou os rigores contra as infrações, freando a imprudência — o comportamento nas ruas é ruim, como se verifica em um passeio pela Cidade Luz, mas já foi pior.
O diretor-adjunto do gabinete do ministro delegado de Transportes, François Poupard, acredita que os avanços na segurança dos carros, os investimentos nas estradas, as campanhas permanentes contra o álcool e o combate ao abuso na velocidade aparecem como pontos decisivos na queda.
O Rio Grande do Sul deseja seguir o caminho francês. Apesar da fase inicial, o intercâmbio já gera as primeiras influências. O Estado acaba de criar um Observatório de Trânsito. A iniciativa, conforme o presidente do Detran, Alessandro Barcellos, servirá para integrar os órgãos de trânsito e unificar as estatísticas. Especialistas apontam a escassez de informações como um dos nós do trânsito brasileiro.
O cerco à velocidade também gera inspiração. Presidente do Comitê Estadual de Mobilização pela Segurança no Trânsito, o vice-governador Beto Grill se entusiasmou com os resultados dos radares, que salvaram pelo menos 23 mil vidas em nove anos.
O Estado tenta destravar a licitação que dotará as estradas estaduais de pardais. E o Detran estuda a instalação de controladores de velocidade média, que flagram motoristas que fizerem um percurso longo em tempo menor do que estipula a lei. O teste deverá começar em 2013.
*O repórter viajou à França a convite do Ministério das Relações Exteriores francês.
O caminho francês
Comitê Interministerial
É o principal marco na reversão na curva de mortes no trânsito francês. Criado em 1972, o comitê coordena a política nacional de trânsito e articula a integração entre os órgãos.
Banco de estatísticas
O Observatório Nacional reúne estatísticas impensáveis no Brasil, como a quantidade de acidentes associados a álcool e velocidade. O refinamento chega a tal ponto de a França monitorar o impacto de um inverno ameno na evolução das mortes — em 2011, por exemplo, temperatura acima do normal contribuiu para estimular o uso de motocicletas e elevar os acidentes sobre duas rodas. Esse detalhamento só é possível porque há sensibilização desde a base: em caso de uma colisão fatal, o policial rodoviário preenche um formulário com cerca de 80 perguntas.
Formação dos condutores
O sistema francês aposta na condução acompanhada como forma de treinar os novos motoristas. Com 16 anos, o francês já pode dirigir, desde que tenha passado por 20 horas de aulas práticas com professor certificado e esteja acompanhado por um motorista com habilitação há pelo menos cinco anos. Essa modalidade aumentou a taxa de aprovação nos exames e reduziu as taxas de acidentes entre condutores jovens.
Lei severa
Se a conscientização não ocorrer pelas vias educativas, as autoridades apelam para os castigos rigorosos. Um apressado que reincidir no abuso da velocidade corre o risco de pagar até 3.750 euros (R$ 10,4 mil) de multa, perder seis pontos na carteira, ter o carro apreendido e ficar preso por três anos. No caso de ser responsável por um acidente com morte, um bêbado poderá pagar multa de 100 mil euros (R$ 277 mil), ver o direito de dirigir suspenso por 10 anos, além de ir para a prisão por sete anos.
Justiça rigorosa
Autoridades brasileiras invejam o rigor na Justiça francesa. Segundo o Comitê Interministerial, quatro em cada 10 condenações nos tribunais franceses estão associadas ao trânsito. O número elevado se deve à previsão legal de que as infrações gravíssimas (5ª classe), como o abuso na velocidade, precisam ir para o Ministério Público, que pode decidir pelo arquivamento do processo ou por levar o infrator a julgamento.
Bafômetros em carros
Sem conseguir reduzir os percentuais de mortes associadas ao álcool (30% do total), a França passou a obrigar que casas noturnas ofereçam testes de bafômetros para seus clientes. Desde a metade de 2012, os carros também precisam contar com o equipamento. Associações de motoristas consideraram desnecessária a obrigatoriedade nos veículos. Dizem que o condutor não precisa de exame para descobrir que exagerou na bebida. Segundo os defensores, a medida é educativa, porque dá um instrumento para os passageiros convencerem o bêbado a desistir de dirigir.
Vigilância eletrônica
Em nove anos, a França instalou 3,9 mil controladores. Com a vigilância eletrônica, a velocidade média dos veículos caiu de 91 km/h para 80 km/h na malha rodoviária entre 2003 e 2012, o que significou 23 mil vidas salvas, segundo estimativas governamentais. Nas áreas próximas dos equipamentos, as mortes caíram em 66%. Uma das apostas francesas está no controle da velocidade média, com 700 aparelhos. O sistema consiste na instalação de dois radares em pontos diferentes, que permitem medir o tempo de percurso do condutor em um trecho. Caso faça o trajeto em um tempo menor do que o previsto, o motorista receberá a multa dois dias depois.
Inspeção veicular
Desde 1992, os carros são submetidos a um rigoroso controle técnico a cada dois anos. Um conjunto de 116 itens passa pela inspeção, que custa entre 60 (R$ 167) e 85 (R$ 235) euros. Foram 20,7 milhões de testes, que analisaram parte da frota de 65 milhões de veículos. Para reforçar a segurança dos veículos, o governo francês ainda pressiona as indústrias a fabricar carros mais seguros, com leis mais exigentes.
Inspeção rodoviária
Pelo menos uma centena de inspetores avalia in loco as condições das rodovias, com foco nas áreas que concentram os acidentes fatais. Com base nesse trabalho, autoridades fazem correções na infraestrutura, reforçam a sinalização e adotam outras medidas para reduzir os riscos. O comitê de segurança ainda faz auditoria de projetos rodoviários.
Campanhas nas empresas
Além de investir em campanhas permanentes e colocar o tema no currículo das escolas, as autoridades francesas têm um plano de ação nas empresas. Elas convencem os empregadores a discutir a segurança do trânsito com seus funcionários.
Fonte: http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/geral/transito/noticia/2012/12/como-a-franca-venceu-a-guerra-do-transito-3971122.html - Acesso em 04/12/2012
O segredo é adotar uma fórmula sem segredos e sem mágicas. Fez o óbvio: em uma frente investiu em prevenção e, em outra, ampliou os rigores contra as infrações, freando a imprudência — o comportamento nas ruas é ruim, como se verifica em um passeio pela Cidade Luz, mas já foi pior.
O diretor-adjunto do gabinete do ministro delegado de Transportes, François Poupard, acredita que os avanços na segurança dos carros, os investimentos nas estradas, as campanhas permanentes contra o álcool e o combate ao abuso na velocidade aparecem como pontos decisivos na queda.
O Rio Grande do Sul deseja seguir o caminho francês. Apesar da fase inicial, o intercâmbio já gera as primeiras influências. O Estado acaba de criar um Observatório de Trânsito. A iniciativa, conforme o presidente do Detran, Alessandro Barcellos, servirá para integrar os órgãos de trânsito e unificar as estatísticas. Especialistas apontam a escassez de informações como um dos nós do trânsito brasileiro.
O cerco à velocidade também gera inspiração. Presidente do Comitê Estadual de Mobilização pela Segurança no Trânsito, o vice-governador Beto Grill se entusiasmou com os resultados dos radares, que salvaram pelo menos 23 mil vidas em nove anos.
O Estado tenta destravar a licitação que dotará as estradas estaduais de pardais. E o Detran estuda a instalação de controladores de velocidade média, que flagram motoristas que fizerem um percurso longo em tempo menor do que estipula a lei. O teste deverá começar em 2013.
*O repórter viajou à França a convite do Ministério das Relações Exteriores francês.
O caminho francês
Comitê Interministerial
É o principal marco na reversão na curva de mortes no trânsito francês. Criado em 1972, o comitê coordena a política nacional de trânsito e articula a integração entre os órgãos.
Banco de estatísticas
O Observatório Nacional reúne estatísticas impensáveis no Brasil, como a quantidade de acidentes associados a álcool e velocidade. O refinamento chega a tal ponto de a França monitorar o impacto de um inverno ameno na evolução das mortes — em 2011, por exemplo, temperatura acima do normal contribuiu para estimular o uso de motocicletas e elevar os acidentes sobre duas rodas. Esse detalhamento só é possível porque há sensibilização desde a base: em caso de uma colisão fatal, o policial rodoviário preenche um formulário com cerca de 80 perguntas.
Formação dos condutores
O sistema francês aposta na condução acompanhada como forma de treinar os novos motoristas. Com 16 anos, o francês já pode dirigir, desde que tenha passado por 20 horas de aulas práticas com professor certificado e esteja acompanhado por um motorista com habilitação há pelo menos cinco anos. Essa modalidade aumentou a taxa de aprovação nos exames e reduziu as taxas de acidentes entre condutores jovens.
Lei severa
Se a conscientização não ocorrer pelas vias educativas, as autoridades apelam para os castigos rigorosos. Um apressado que reincidir no abuso da velocidade corre o risco de pagar até 3.750 euros (R$ 10,4 mil) de multa, perder seis pontos na carteira, ter o carro apreendido e ficar preso por três anos. No caso de ser responsável por um acidente com morte, um bêbado poderá pagar multa de 100 mil euros (R$ 277 mil), ver o direito de dirigir suspenso por 10 anos, além de ir para a prisão por sete anos.
Justiça rigorosa
Autoridades brasileiras invejam o rigor na Justiça francesa. Segundo o Comitê Interministerial, quatro em cada 10 condenações nos tribunais franceses estão associadas ao trânsito. O número elevado se deve à previsão legal de que as infrações gravíssimas (5ª classe), como o abuso na velocidade, precisam ir para o Ministério Público, que pode decidir pelo arquivamento do processo ou por levar o infrator a julgamento.
Bafômetros em carros
Sem conseguir reduzir os percentuais de mortes associadas ao álcool (30% do total), a França passou a obrigar que casas noturnas ofereçam testes de bafômetros para seus clientes. Desde a metade de 2012, os carros também precisam contar com o equipamento. Associações de motoristas consideraram desnecessária a obrigatoriedade nos veículos. Dizem que o condutor não precisa de exame para descobrir que exagerou na bebida. Segundo os defensores, a medida é educativa, porque dá um instrumento para os passageiros convencerem o bêbado a desistir de dirigir.
Vigilância eletrônica
Em nove anos, a França instalou 3,9 mil controladores. Com a vigilância eletrônica, a velocidade média dos veículos caiu de 91 km/h para 80 km/h na malha rodoviária entre 2003 e 2012, o que significou 23 mil vidas salvas, segundo estimativas governamentais. Nas áreas próximas dos equipamentos, as mortes caíram em 66%. Uma das apostas francesas está no controle da velocidade média, com 700 aparelhos. O sistema consiste na instalação de dois radares em pontos diferentes, que permitem medir o tempo de percurso do condutor em um trecho. Caso faça o trajeto em um tempo menor do que o previsto, o motorista receberá a multa dois dias depois.
Inspeção veicular
Desde 1992, os carros são submetidos a um rigoroso controle técnico a cada dois anos. Um conjunto de 116 itens passa pela inspeção, que custa entre 60 (R$ 167) e 85 (R$ 235) euros. Foram 20,7 milhões de testes, que analisaram parte da frota de 65 milhões de veículos. Para reforçar a segurança dos veículos, o governo francês ainda pressiona as indústrias a fabricar carros mais seguros, com leis mais exigentes.
Inspeção rodoviária
Pelo menos uma centena de inspetores avalia in loco as condições das rodovias, com foco nas áreas que concentram os acidentes fatais. Com base nesse trabalho, autoridades fazem correções na infraestrutura, reforçam a sinalização e adotam outras medidas para reduzir os riscos. O comitê de segurança ainda faz auditoria de projetos rodoviários.
Campanhas nas empresas
Além de investir em campanhas permanentes e colocar o tema no currículo das escolas, as autoridades francesas têm um plano de ação nas empresas. Elas convencem os empregadores a discutir a segurança do trânsito com seus funcionários.
Fonte: http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/geral/transito/noticia/2012/12/como-a-franca-venceu-a-guerra-do-transito-3971122.html - Acesso em 04/12/2012
Isso é um sonho! Países que se preocupam com a vida é admirável. Torço para que o Rio Grande do Sul e todos os outros estados do Brasil possam seguir exemplos de educação no trânsito como os da França. No entanto, continuo a reforçar: um país com um povo tão corrupto como o nosso, é lamentável, não sei se haverá resultados positivos dentro do período estipulado - uma década, se não me engano - para diminuir as mortes no trânsito. É preciso acreditar e confiar!
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