O trânsito é quase uma praça de guerra, mas cresce o número de pessoas e instituições que levantam a bandeira da tolerância e da paciência na direção.
Não faz muito tempo que os jornais trouxeram mais uma notícia de morte causada por uma briga de trânsito: um motoqueiro e o motorista de um carro se desentenderam depois de uma simples batida,numa das avenidas mais movimentadas da cidade de São Paulo. O motoqueiro acabou sendo baleado e morreu, vítima de um enredo que tem vários pontos de semelhança com muitas outras tragédias que, de tempos em tempos, ganham espaço no noticiário: motoristas discutem por causa de uma colisão ou de uma fechada, segue-se uma perseguição. Saldo: morte.
Não foi a primeira e provavelmente não será a última. Diante de episódios como esses, mais uma vez nos deparamos com algumas reflexões: por que o trânsito se tornou um espaço para destilarmos tanta ira? Por que, mesmo quando saímos de casa para um domingo feliz, poucos quarteirões adiante podemos fazer um inimigo mortal? Por que nos despimos de nossa gentileza e cordialidade antes de pegar no volante de um carro?
Há uma unanimidade quando a questão está em debate: precisamos tornar o trânsito mais humano e, para isso, não seria nada mal levar mais gentileza para as relações que obrigatoriamente tecemos com estranhos enquanto guiamos nosso carro por vias públicas. Ceder espaço para que outro carro entre na nossa frente, esperar pacientemente que um pedestre mais lento atravesse a rua, não sair por aí disputando com outros carros quem arranca primeiro ao abrir o sinal, ter tolerância com barbeiragens alheias...
Inspiradas nessa ideia do poder da gentileza, várias campanhas têm surgido espontaneamente na sociedade, pedindo mais cordialidade no trânsito. Uma delas, idealizada pela seguradora de carros Porto Seguro, intitula-se “Trânsito Mais Gentil”. “A ideia surgiu da percepção de nossas próprias equipes de que a intolerância no trânsito vem aumentado. Pensamos no que poderíamos fazer, que não fosse centrado no respeito às leis, mas sim no comportamento das pessoas”, explica Tanyze Marconato, gerente de marketing da seguradora.
O movimento é apoiado por campanhas publicitárias, ações de rua, ações interativas na internet e promoção de descontos na renovação ou contratação de seguro para quem não possui pontos na carteira de habilitação. Inicialmente lançada em São Paulo e depois estendida para todo o Brasil, a campanha tem colhido saldos muito positivos, com milhares de motoristas adotando o adesivo do movimento e muitas discussões em torno do tema nas redes sociais.
“A falta de gentileza entre pessoas, em qualquer situação, é um fator que contribui para o desgaste das relações interpessoais. Em contextos que já significam uma maior tensão emocional, como no trânsito, a falta de gentileza é mais facilmente interpretada como grosseria e pode desencadear respostas agressivas”, observa João Gabriel Marques Fonseca, médico e músico, professor da Faculdade de Medicina e da Escola de Música da UFMG, que tem se dedicado a programas de promoção da saúde e controle do estresse.
http://www.revistaencontro.com.br/revista/capa/voce-topa-ser-gentil.html - acesso em 07/07/2011
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