29 de mar. de 2011

Acidentes com motos são um problema de saúde pública em Santa Catarina

Cada acidente de moto no país custa, em média, R$ 50 mil aos cofres públicos
 
O laminador de barcos Diogo Laia, 29 anos, corre o risco de nunca mais andar. Ele sofreu uma lesão na coluna depois de um acidente de moto no dia 12, em Palhoça, na Grande Florianópolis. Diogo passou por uma cirurgia e ficou 13 dias internado no Hospital Regional de São José.

— Não consigo mexer nem as pernas e nem os braços. Pode ser que nunca mas eu consiga caminhar — disse Diogo, emocionado, na última quarta-feira, ainda no hospital. 

Na sexta-feira ele voltou para casa, ao lado da mulher, a balconista Fabiana Cândido, 23. 

— O médico disse que o Diogo lesionou a quarta e a quinta vértebras, e que sua recuperação vai depender da fisioterapia e da força de vontade dele — contou Fabiana. 

— Minha força de vontade é maior que o oceano — disse Diogo. 

O acidente de Diogo e qualquer outro acidente de moto não afetam apenas as famílias envolvidas, mas toda a sociedade, inclusive aqueles que não andam neste tipo de veículo. E Santa Catarina ainda engatinha diante de um problema que todos podem ver, mas que a Secreatria Estadual de Saúde (SES) está longe de solucionar. 

O secretário de Saúde, Dalmo de Oliveira, admite que esse é um problema de saúde pública. Mas também revela que a SES não possui dados oficiais que ilustrem o problema.

— É um problema de saúde pública por causa do volume de acidentes, do custo social e da assistência médica. A recuperação é lenta, muitas vezes com sequelas. E muitos pacientes ficam afastados do trabalho por um longo período ou permanentemente — observou o secretário, que estuda fazer uma campanha de conscientização sobre o assunto. 

— Não temos dados gerais do custo que os acidentes de moto representam para o Estado. No futuro, teremos um sistema que reúna estes dados — garantiu o secretário. 

Diante da dificuldade de se conseguir números oficiais, o DC foi em busca de informações junto a órgãos e entidades como a Associação dos Motociclistas da Grande Florianópolis (Amofloripa), Polícia Militar (PM), Polícia Militar Rodoviária (PMRv), Polícia Rodoviária Federal (PRF), Departamento Estadual de Trânsito de Santa Catarina (Detran/SC), Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (DPVAT) e Banco de Dados do Sistema Único de Saúde (DataSUS), além de cinco hospitais referência em ortopedia. São eles: Regional de São José, Celso Ramos, na Capital, Municipal de São José, em Joinville, Santo Antônio, em Blumenau, e Nossa Senhora da Conceição, em Tubarão. 

Nestes cinco hospitais, a situação é a mesma: a maior parte dos pacientes da ortopedia são vítimas de acidentes com moto. 
 
 
O atendimento para este tipo de paciente é caro, a recuperação muitas vezes é lenta, faltam médicos e espaço físico na ortopedia para atender tantos acidentados com moto. O perfil dos acidentados é semelhante: são jovens, de baixa renda que usam a moto para trabalhar. R$ 50 mil por acidente Cada acidente de moto no país custa, em média, R$ 50 mil aos cofres públicos, de acordo com a Amofloripa, baseada em dados pesquisados pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Com base nesta média nacional, foram gastos cerca de R$ 164, 3 milhões em acidentes com moto nas rodovias estaduais e municipais catarinenses, em 2010, se considerarmos o número de 3.286 acidentes com moto nessas rodovias, nesse ano, de acordo com dados da PM. Neste valor de R$ 50 mil, estão incluídos custos do recolhimento do acidentado com ambulância, deslocamento do policial, a internação, os medicamentos do paciente, a fisioterapia, e o custo de reforma da via pública. Só a diária em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) pode chegar a R$ 2 mil. O custo dos antibióticos para tratar infecção ósseas, principalmente em casos de fraturas expostas, chega a R$ 500 a dose. Como elas tem de ser aplicadas de seis em seis horas, o gasto com um paciente é de R$ 2 mil por dia só com esta medicação. O custeio é via SUS. Na ala ortopédica do Hospital Municipal de São José, em Joinville, os pacientes ficam 30 dias em média. Mas há casos graves de infecções ósseas que podem demandar até um ano de internação. 

Na ortopedia do Regional da Grande Florianópolis, o acidentado com moto também sobrecarrega o setor. Dos 80 internados na quarta-feira, 85% eram por acidente de moto.  

— E hoje temos um ortopedista de plantão para 2 milhões de habitantes — contou o próprio médico de plantão, na quarta-feira, Gustavo Carriço de Oliveira, se referindo ao número de pessoas que moram nas cidades atendidas pelo Regional como Tijucas, Garopaba, São José, entre outras. 

Além de ser referência, o Regional é o hospital mais próximo da BR-101, onde ocorrem muitos acidentes. Em 2010, 104 motociclistas e caroneiros morreram nas estradas federais catarinenses, incluindo a BR-101, segundo números da PRF.

— É um veículo barato, de fácil compra, e fácil deslocamento. O usuário, jovem, de baixa renda e que precisa sustentar os filhos não tem outra opção de transporte, já que o transporte público não funciona — observou Carriço.  

DIÁRIO CATARINENSE 

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