9 de out. de 2012

A dinâmica do Atropelamento

A gravidade dos atropelamentos mantém direta relação com as características físicas e com a dinâmica dos corpos em conflito. O fato de a energia cinética aumentar em proporção muito maior do que a velocidade, confere aos atropelamentos conseqüências particulares severas dada a vulnerabilidade de um corpo frente a um veículo.

No mais freqüente tipo de atropelamento, cerca de 80% dos casos, o pedestre é atingido pela dianteira de um veículo. A ideia de que em um atropelamento o veículo "passa por cima" do pedestre não coincide com o que ocorre na maior parte dos casos. Situações em que o carro passa por sobre o corpo do atropelado podem ocorrer em casos como acidentes envolvendo ônibus ou caminhões.

Em choques com veículos comerciais (particularmente veículos pesados), ASHTON observa uma maior incidência de contatos laterais e traseiros, sendo graves as conseqüências nos choques em que os pedestres, ao serem lançados ao solo, são esmagados pela(s) roda(s) traseira(s) do veículo.

No entanto a dinâmica do atropelamento mais provável é aquela em que o pedestre, após o choque com a frente de um veículo, rola por sobre o capô e pára-brisa do carro que o atinge. O que ocorre após o choque depende de uma série de fatores, dentre os quais a velocidade do veículo e a altura do pedestre relativamente à frente do veículo e o pára-choque.

O local do contato inicial (normalmente, os membros inferiores) no choque contra o veículo influencia a gravidade da lesão do pedestre.Estudos sobre lesões de pedestres pelo INSURANCE INSTITUTE FOR HIGHWAY SAFETY, indicam que praticamente todos os traumas e fraturas na região pélvica e nas pernas dos pedestres são causados pelo contato com o veículo e não com o pavimento.

Os contatos com os pára-choques foram responsáveis por mais da metade (55%) das lesões pesquisadas pelo IIHS, sendo o contato com a estrutura frontal dos veículos acima do pára-choque responsável pela outra quase-metade (42%) das lesões verificadas. Os levantamentos deste estudo também revelam que fraturas de joelhos são mais prováveis quanto a altura dos pára-choques está 1/4 ou 1/3 da altura dos pedestres.

A probabilidade de lesões fatais é maior nos choques frontais do que nos laterais.

Em choques a velocidade acima de 60 km/h, o pedestre, em geral, rola por sobre a dianteira do carro após o segundo contato (provavelmente o da cabeça) contra o veículo, com o corpo dobrando-se e as pernas podendo atingir o teto do habitáculo. Dado as forças aplicadas ao pedestre, resultantes do choque, o corpo do pedestre é acelerado à velocidade do veículo e, ocorrendo a frenagem (e este é, geralmente, o caso), o pedestre prossegue na velocidade adquirida. Com a frenagem brusca, o carro reduz sua velocidade em uma proporção maior que a do corpo do pedestre. O pedestre é então, arremessado adiante do veículo em desaceleração, antes de atingir o solo.

A probabilidade do segundo contato ser o da cabeça contra o carro aumenta na proporção direta da velocidade do impacto e inversamente em relação à altura do veículo. A velocidade no impacto determina, também, o local do carro em que ocorre o choque da cabeça. A partir de 50 km/h, virtualmente todo pedestre sofrerá o choque da cabeça contra o veículo.

Em crianças com idades abaixo de cinco anos BRISON J.Y. and STULGINSKAS, J.V apontam a preponderância de lesões na cabeça e pescoço, a partir da explicação provável da lesão se dar devido à altura da criança em relação aos pára-choques dos veículos envolvidos. Segundo ASHTON, a criança é atingida, geralmente, pelo pára-choque na parte mais alta dos membros inferiores, e no torso pela dianteira do capô.

A percepção de que quanto mais alta a velocidade do veículo, maior o dano imprimido ao pedestre pode parecer por demais óbvia para demandar averiguação científica. Ainda assim, tal relação tem tido vasta documentação na literatura nas áreas de trânsito e transporte. O NATIONAL HIGHWAY TRAFFIC SAFETY ADMINISTRATION (NHTSA) identificou mais de 600 referências consideradas relevantes, com o objetivo de reafirmar e quantificar a relação velocidade do veículo-gravidade dos atropelamentos. Dentre estes, destacam-se os estudos do FATAL ACCIDENT REtoda PORT SYSTEM (FARS), que revelam tanto a relação direta da mortalidade-velocidade quanto os efeitos em diferentes grupos etários, demonstrando a extrema vulnerabilidade de pedestres acima de 65 anos de idade. O DEPARTAMENT OF TRANSPORT TRAFFIC britânico comprova a relação entre a velocidade do veículo no impacto e a grabvidade das lesões em estudo que demonstra que:
  • a 32 km/h, 5% dos pedestres atingidos morrem, 65% sofrem lesões e 30% sobrevivem ilesos;
  • a 48 km/h, 45% morrem, 50% sofrem lesões e 5% sobrevivem ilesos;
  • a 64 km/h, 85% morrem e os 15% restantes sofrem algum tipo de lesão.
Estes dados assemelham-se aos de PASANEN, que estima em 5% a parcela de pedestres que morreriam em atropelamentos a 32 km/h; 40% em choques a 48 km/h; 80% em choques a 64 km/h e aproximadamente 100% em velocidades acima de 80 km/h.

Efeito de um atropelamento:

Uma pessoa atropelada a uma velocidade de 60Km/h equivale a uma queda do 11º andar de um prédio, a 80Km/h do 20º andar e se for a 120Km/h como se fosse do 45º andar.


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