Dr.
Dirceu Rodrigues Alves
1) O que acontece com o reflexo da pessoa quando
ela dirige e fala ao celular ao mesmo tempo? (Ou, pior, digitar mensagens
também?)
A modernidade leva ao
conforto, facilidade, comunicação e muita vez coloca o ser humano em condição
de risco e produz o surgimento de situação adversa.
Para dirigir
precisamos de três funções básicas:
- cognitiva - (atenção, concentração, raciocínio, vigília).
- motora - respostas imediatas - (reflexos).
- sensório- perceptiva - sensibilidade tátil, visão, audição.
Quando se atende o
celular todas essas funções ficam comprometidas.
As informações visual
e auditiva chegam ao cérebro através o Tálamo, daí encaminhadas ao Lobo Frontal
onde são filtradas e encaminhadas a Córtex Cerebral que responde imediatamente
e ainda armazena (memoriza).
A resposta ocorre em
0,75 segundos. Com o celular, ou outro equipamento que comprometa as funções
citadas, esse tempo pode chegar a 1,50 segundos o que é suficiente para a
ocorrência de sinistro. Interessante é que não ficou na memória o que se passou
durante o tempo em que falava ao celular.
Os mais jovens dominam
com mais facilidade e rapidez a tecnologia. Por isso são os usuários mais comuns
do celular, em consequência as maiores vítimas de acidentes quando na direção
veicular.
O celular, o radio
comunicador e toda tecnologia introduzida no veículo são exemplos típicos que
utilizados em determinados momentos são capazes de gerarem acidentes. Hoje,
mandar torpedos, digitar no mini computador são atividades absurdas que se
constata na direção veicular.
Nessa condição o
condutor recebe múltiplas informações de maneira continuada, analisa e reage. O
tempo nesse processamento é mínimo. O uso do celular aumentará em muito o tempo
de resposta. Pior, serão respostas mecânicas (inconsciente), as informações
visual e auditiva não chegaram a Córtex Cerebral, ficaram no Lobo Frontal.
Quando se está ao
volante, ao tocar o celular isto produz no seu proprietário o fenômeno surpresa
e a busca imediata ao equipamento, isso acompanhado de intensa ansiedade. A mão
é retirada do volante em busca do telefone, quando só deveria desligar-se do
volante para mudança de marcha ou para acessar acessórios no painel, é o que
determina a legislação. Desde o toque
inicial do aparelho, o indivíduo desconecta-se da direção, leva 4 a 5 segundos
para fazer o contato e se estiver a 100 Km/h terá percorrido 120 metros sem
atenção para os 360° que lhe cercam, ficando restrito a visão dianteira ( perde
a visão periférica, passando a te-La de maneira tubular).
Ação do motorista
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Tempo gasto (estimado)
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Distância percorrida a 100 km/h
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Acender um cigarro
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3 segundos
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80 metros
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Beber um copo de água
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4 segundos
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110 metros
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Sintonizar o rádio
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4 segundos
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110 metros
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Procurar objeto na carteira
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Mais de 3 segundos
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Mais de 80 metros
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Consultar um mapa
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Mais de 4 segundos
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Mais de 110 metros
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Discar número de telefone
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5 segundos
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140 metros
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Fonte: Volkswagen
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Ao mesmo tempo surgem as perguntas: quem
será? O que quer? A desconexão aumenta quando escuta quem fala. A concentração
é desmantelada. Sem perceber, altera a velocidade. O motorista passa a ter
uma direção automatizada. Faz os movimentos necessários sem a percepção do que
está fazendo. Não observa riscos. No intercâmbio das informações fica mais
ansioso. Cai mais a atenção, concentração, controle das emoções e o raciocínio.
Aumenta em quatro vezes a possibilidade de acidente. Prova é que se indagarmos
do motorista o que havia no seu trajeto ele não saberá relatar com detalhes.
Não teve como armazenar o que viu no trajeto, tamanho era o desvio da atenção
para o interlocutor.
Interessante que mesmo após a
interrupção da ligação, mantém-se por algum período a desconexão, desatenção
com a direção veicular. Isso ocorre em decorrência do retrospecto e raciocínio
feito pelo motorista dentro do tema abordado pelo interlocutor. É quando também
ocorrem os acidentes, imediatamente após ter desligado o celular.
Vários países já têm o celular, fone e viva
voz como equipamentos avessos à direção veicular por serem geradores de
desatenção e de colisões. Legislações específicas proíbem o uso.
2) O principal problema é mais relacionado à
capacidade de atenção ou ao fato de ter que retirar as mãos do volante?
Os dois comportamentos somam-se
potencializando o acidente.
Ao adentrar o veículo por medida
de segurança temos a obrigação de desligar qualquer meio de comunicação para
mantermos a concentração naquilo que estará sendo executado. O celular receberá
as ligações e armazenará os contatos. Parado, em situação de total segurança,
acionaremos o celular para refazermos contatos, ver e mandar torpedos.
A segurança de todos
nós depende de cada um.
3) É verdade que dirigir ao celular é tão perigoso
quanto conduzir alcoolizado?
É verdade. O álcool compromete as
mesmas funções citadas, daí a equivalência.
Dr. Dirceu Rodrigues Alves Júnior
Diretor de
Comunicação e do Departamento de Medicina de Tráfego Ocupacional da
ABRAMET - Associação
Brasileira de Medicina de Tráfego
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